Por: Antonio Mata.
O movimento enorme já era esperado. A despeito das formas de se adiantar as verificações necessárias, ainda assim, pelo acúmulo de gente se tornava muito trabalhoso.
Quando surgia um atraso inesperado ou algo saía errado, era angustiante. Horas a mais e stress demais. Porém, vai chegar a hora e a agonia começará a ir embora.
Enfim, pelo serviço de som começam a informar os próximos embarques. Mais uma fila, contudo, esta já traz o alívio de se sair dali em breve e o fim da espera.
Após as verificações de praxe, se dirigem para à ponte de embarque. Logo procuram os números de assentos e em seguida colocam a bagagem de mão nos bagageiros, já abertos.
Ela não chamava a atenção. Em silêncio, sentou-se logo com as pernas cruzadas e manteve sua mochila consigo. Uma dessas feitas em jeans. Aguardava que os demais se acomodassem, apertassem seus cintos e logo iniciariam a decolagem.
Sem maiores transtornos, no tempo devido o avião alcançou o nível de voo. Os passageiros puderam desafivelar os cintos e prosseguir naquilo que seria uma viagem muito tranquila.
Entretanto, aquela jovem, na extremidade esquerda, junto à janela. Parecia que havia algo errado. O passageiro da poltrona central olhou discretamente, mas não quis dizer nada. O problema era aquela mochila. Parecia se mover, como se alguma coisa estivesse ali dentro.
O movimento, longe de cessar, aumentou. Então prestou mais atenção, em algo que parecia uma calda nervosa. Balançando de um lado para o outro. Então, achou por bem alertar a jovem.
— Sei que é chato, mas não deveria ter colocado seu pet no bagageiro do avião? Ficaria melhor acomodado.
— Não posso.
— Pois é, eu sei. Mas, não seria mais adequado?
— Não, não posso.
— Espero que não impliquem com você por causa disso.
— Eu também.
— A mochila se mexendo acabou chamando a atenção de outros passageiros. Até que a história chegou ao conhecimento da comissária de bordo.
No assento do canto, a mochila insistia em se agitar. A mulher permanecia em silêncio. Até que a comissária de bordo para saber o que estava acontecendo naquela parte do avião.
— Não seria melhor abrir a mochila? Seu bichinho acabará sufocando dessa forma.
— Não é preciso, ele está bem aqui.
— Será mesmo? Veja como ele está agitado.
Nisso, outro passageiro entrou na conversa.
— Deixe abrir a mochila para que ele possa respirar! Não está vendo? Assim, você poderá matá-lo.
A jovem ficou preocupada com tal possibilidade.
— Abra pelo menos um pouco. — Agora era a aeromoça que insistia para que ajudasse o pet a respirar.
Depois de muita insistência, permitiu abrir ligeiramente a mochila.
— Ele não deve estar bem, nem está latindo ou miando. Você não devia ter feito isso com ele.
Foi quando a comissária interviu.
— Deixe-me ver como ele está. Realmente ele não late. Mas, é um cachorro ou um gato?
A mulher arregalou os olhos.
— Tudo bem, só permita que ele respire um pouco. — A comissária procurava conduzir a situação. Pois ainda faltava hora e meia de voo. Melhor evitar que aparecesse um bicho morto.
Lentamente a passageira se permitiu abrir a mochila, mais um pouco, muito pouco. A comissária e os passageiros mais próximos olhavam procurando identificar por que razão aquele pet não latia nem miava. Mais um comissário de bordo se apresentou no local.
— Mas, que bicho é esse, pode nos dizer? Por que não está latindo, ele está bem? — Perguntou o comissário.
— É meu filho! — Respondeu a moça.
Repentinamente, em um descuido da jovem, algo escorregou para fora da mochila, emitindo um grunhido, um chiado desconhecido dos demais. — Os passageiros próximos deram um grito de susto. Enquanto aquele pet saltava no chão.
— Uaiii, uaiii! Some com esse bicho daqui! — Gritavam.
— Se meteu por debaixo dos assentos, cuidado aí na frente! É um jacaré, é um jacaré!
O aviso nervoso e aos berros correu igual rastilho de pólvora. Passageiros em pânico, gritando, subiam por cima das poltronas e todos procuravam enxergar por onde estava o bicho.
— Esse bicho morde! Jacaré morde! — Mais pessoas ficavam de pé em seus assentos.
Perdeu-se o controle da situação. Por mais que os comissários insistissem para que retornassem aos assentos e ficassem sentados, isto se tornou impossível, tamanho o pânico.
Deram ciência do ocorrido ao comandante do avião. Pelo interfone, um dos comissários pedia a todos que se acalmassem e retornassem a seus lugares, pois o problema logo seria contornado, para o conforto e segurança de todos.
A moça dizia.
— É só um jacaretinga e ele é manso. É só ficar quieto que não vai acontecer nada!
— Os dentes desse bicho parecem navalhas! Eu não desço daqui nem que a vaca tussa!
Em uníssono, as respostas eram uma só.
— Nem eu, nem eu!
Chegou, enfim, o momento do pouso. Com a situação fora de controle, o comandante solicitou mais uma vez que se sentassem. Que mantivessem os cintos de segurança afivelados e pés levantados, somente por precaução. Assim foi feito.
A aeronave realizou seu pouso em segurança, taxiando até a ponte de desembarque. A aeromoça, então, solicitou que deixassem a aeronave em ordem e sem atropelos, por conta da segurança de todos. Pediu para descer três fileiras de cada vez, segundo sua indicação.
Ainda que ressabiados e olhando para o piso o tempo todo, os passageiros foram deixando o avião. Em seguida, um grupo de bombeiros, assim como agentes da polícia federal, entraram na aeronave. Tanto para procurar pelo jacaretinga, como para deter sua proprietária, após tanta confusão.
Os dois comissários olhavam um para o outro.
— Pois é, hoje em dia nada mais surpreendente.