Foto: Engin Akyurt por Pixabay
Por: Antonio Mata
Tinha amanhecido com a sensação de ter recebido instruções claras em um sonho, e que então deveria segui-las. Era algo com relação ao telhado, fazer algo em cima do telhado. Sentou-se na cama, pensando.
Joaci, acreditava ter recebido o que lhe pareceu ser instruções para fazer um serviço. Era no sentido de se pintar o telhado, ou pelo menos foi como o homem achou de interpretar aquele sonho, tão diferente. Afinal, não é todo dia que se pede para mexer no telhado em um sonho.
— Acho que é assim, a gente pinta as paredes externas de branco, e o telhado a gente escolhe uma cor, pode ser de azul, por exemplo. Deve ser isso, ninguém vai dizer que a casa está feia, se deixarmos tudo pintado. Ainda podemos colocar trepadeiras, nos balcões junto das janelas. Dizia à sua esposa.
Acreditava que com a ideia das trepadeiras obteria mais facilmente o apoio da Maísa, sua esposa, que muito apreciava o uso de plantas ornamentais. Ela mesma, que costumava espalhar plantas pela casa toda.
— Joaci, não seria o contrário, telhado branco e paredes azuis? Questionava a esposa.
— Não ligue Maísa, se ficar feio a gente conserta.
— É, acho que vai dar certo. Deve ter sido um pedido para você cuidar de suas coisas. Dizia Edinaldo, irmão de Joaci, que havia acabado de chegar e ouvia o relato do sonho.
— Eu também achava você meio relaxado com essa casa, Joaci. O puxão de orelha veio em boa hora.
Em uma casa próxima, um garoto entra correndo, cruzando a porta ainda aberta. Conduzia um recado que havia acabado de receber.
— Pai, pai, o Joaci disse para você pintar o telhado da casa de azul porque isso é muito importante. É qualquer coisa sobre sonho e meio ambiente. Pediu para avisar o pessoal da nossa rua também, pois vai ser bom para todo mundo.
Hilton, o pai do garoto, olhou para Décio, seu cunhado, achando aquilo muito estranho. Foi Décio, que emendou.
— Julinho você tem certeza disso, foi isso mesmo que ele disse?
— Foi sim, ele repetiu duas vezes. Ah, lembrei, é para colocar trepadeiras também.
— Vai ver, é essa onda ambientalista que existe agora, explicava Décio a seu cunhado. Para melhorar o visual das cidades, este seria sim um bom motivo. Justificava Décio, satisfeito com aquela sua conclusão.
— Já soube de plantas que colocaram por cima do telhado certa vez. Acho que ajuda a alegrar e clarear os ambientes. Está tudo muito cinzento, era bom mudar mesmo, completou Hilton, com a anuência de seu irmão.
— Mas se for pintar o telhado, eu pintaria de verde para combinar com as plantas. Verde claro com folhas em verde escuro, vai ficar uma combinação bonita.
O vizinho da casa da frente, vendo o outro pintando o telhado de verde, quis saber do que era que se tratava aquilo. Recebeu então como resposta, a explicação de Hilton:
— É para combinar com as folhas das trepadeiras e fazer um efeito em tons verdes. Vai ficar mais agradável e ecológico, com as plantas em volta. Joaci sugeriu que os demais, caso queiram, façam também. Não é muito caro e tem um efeito muito bonito quando se olha de cima.
Raul, diante dos argumentos de Hilton, achou a iniciativa interessante, e tão logo se tornou possível, foi cuidar de seu telhado também.
Já na loja de tintas, encontrou Evilásio, o vizinho da casa amarelo-terra, na esquina, e explicou o que o pessoal estava fazendo. Evilásio adorou a ideia, e dotado de uma mentalidade tão criativa quanto conservadora, resolveu pintar seu telhado de vermelho, combinando com o amarelo-terra da fachada da casa.
Já o Kelton, um conhecido “mão de vaca”, lá daquela rua, se viu com uma dúvida e tanto. Seu telhado já era bem velho, com grandes manchas escuras cobrindo a maior parte dele. O ideal era que fosse reformado. Com aquela mistura de preguiça, e pena de gastar dinheiro, tudo muito peculiar, havia deixado o telhado como estava. As poucas goteiras ainda não o incomodavam o suficiente. Foi quando um conhecido lhe falou o seguinte.
— Quer esconder o sujo rápido, e sem gastar muito? Pinta o telhado de preto. Onde tiver telha quebrada, cubra com breu. Vai ficar tudo escondido por um longo tempo, e você não terá mais que se preocupar com esse negócio que apareceu, de telhado colorido.
Gastar pouco e trabalhar pouco, faziam parte do Manual do Escoteiro Mirim do Kelton, que de pronto, tratou de comprar logo a tinta preta para o telhado. Até porque, não estava simpatizando muito com a moda do telhado colorido. Achava invencionice demais para o seu gosto.
No meio da quadra, e atento à movimentação dos vizinhos, Jaime entendeu logo que deviam estar procurando enfeitar as casas para algum evento festivo, e é claro, sempre gostou de compartilhar com os demais. Diante de tantas cores, decidiu também diversificar pintando o telhado de amarelo canário, em homenagem à seleção brasileira de futebol.
Caminhando pela rua, Raul e Décio observaram que outros tantos moradores daquela área adotaram a orientação feita por Joaci. Já se contava pelo menos uns quinze ou dezesseis telhados pintados de diversas cores. Gostaram da movimentação e todo aquele colorido por cima dos telhados, outrora tão escuros.
Já que deu tão certo, pensavam em estender a ideia a outras partes das casas, como as calçadas, por exemplo, ou mesmo as garagens, muitas vezes tão deixadas de lado, merecendo apenas uma camada de concreto que com o tempo escurecia.
Passando perto da casa de um rapaz franzino recém-chegado no lugar, com sua mãe, viram ele igualmente se preparando para pintar o seu telhado. Da rua começaram a chamar por ele e gesticulavam bastante, com Helinho, o rapaz, gesticulando de volta, meio sem entender aquilo. Aquele movimento perto do portão chamou a atenção de dona Meridiana, mãe do rapaz, que foi verificar o que se tratava.
Explicaram que apenas queriam saber que cor o seu filho pretendia usar no telhado. Dona Meridiana, acenou para o filho, e utilizando a Língua brasileira de sinais – Libras, perguntou do filho qual a cor que estava utilizando, e porque tinha resolvido pintar o telhado.
Helinho, recebeu a indagação de sua mãe e lhe respondeu gesticulando, em Libras, esclarecendo aos demais o que estava fazendo lá em cima.
“Tempos atrás, tive um sonho onde me foi solicitado que pintasse o telhado de branco, por conta de uma onda de calor que deverá assolar a região em breve. O branco serve para refletir a luz do sol, diminuindo o calor dentro de casa”.