Por: Antonio Mata
Com poucas semanas na cidade, por conta de um contrato que precisou fazer, lhe foi solicitado que fizesse o reconhecimento de assinaturas em um cartório.
Pouco afeto a tais questões cartoriais, ainda não compreendia direito. Mas, percebendo que se não o fizesse teria problemas, resolveu atender e acabar com aquilo.
Chegando no cartório, foi orientado a aguardar na fila para ser atendido. Ainda inseguro com as novidades daquele dia, além da fila que parecia não sair do lugar, foi surpreendido com cólicas intestinais. Uma antiga manifestação nervosa.
Decidiu deixar a fila por algum tempo, enquanto localizava o banheiro. Ao encontrá-lo, duas outras pessoas já estavam na sua frente. Daí então, nova espera.
Finalmente pôde entrar e aliviar-se de sua tensão emocional. Quando de repente a luz do banheiro apagou. Incomodou-se com aquela repentina falta de energia.
Se preparava para deixar o local, quando, ao tocar na porta, a energia retornou. Saiu satisfeito, pois seria um problema a menos, já imaginando eventuais dificuldades no atendimento devido à falta de energia.
Ao retornar teve que ficar no fim da fila mais uma vez. Fosse por uma razão, fosse por outra, o fato é que a ansiedade tornou a perturbá-lo, provocando cólicas intensas mais uma vez.
Novamente correu para o banheiro, onde outra fila o esperava. Enfim, pôde adentrar o recinto se acomodando e pensando em outra fila que haveria de prendê-lo naquele cartório.
Pensava nas agruras daquela manhã, quando mais uma vez a luz apagou. Sentado no sanitário, arregalou os olhos, abriu a boca e teve um acesso de cólera.
Era o fruto perverso daquela situação indefinida que insistia em prejudicá-lo. Suava frio e o desvario tomou conta do homem. De lá mesmo, em altos brados, avisava a todos.
— Não me interessa! Não me interessa! Nem quero saber! Agora, só saio daqui quando a luz voltar!