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terra de espíritos

histórias, crônicas e contos

A muralha

                                                                           

                                                                                                                                            Foto: Gerardo Patinho

Por: Antonio Mata

Caminhada extensa e difícil aquela. Iniciada ainda na escuridão da madrugada, agora o sol às suas costas refletia em formidável paredão logo adiante. A chegada ao novo obstáculo, se fazia acompanhar da fadiga e do tempo.

Não bastasse isso, vinha meio moído, por conta de esforços anteriores, em deslocamentos que pareciam infindáveis. Engajara entre os batedores, por seleção. Ofício nobre, reservado aos mais fortes e capazes. Só não imaginava que seriam tão extenuantes aqueles deslocamentos a pé.

Quantas vezes não encontraram nada? Quantas vezes não chegaram a lugar nenhum. Melhor nem pensar.

Os propósitos eram simples. Muitos dependiam de uma orientação segura e correta. O melhor caminho. Enquanto não identificassem por onde passar, cada um do grupo estaria às voltas com necessárias explorações.

Foi quando se deparou com a encosta de face brilhante. Não era uma só e ainda estava preso na primeira. Prosseguiu avançando sempre. Fosse por puro cansaço, fosse por inexperiência, de perto aquilo assumia ares de algo assustador.

Se não estivesse sozinho, teria feito melhor? E daí, não havia escolhido viver daquela forma? Já cansado e precisando seguir adiante, não perdeu muito tempo pensando nisso. Tratou de se agarrar ao paredão e subir.

Era uma espécie de teimosia. Avançava com muito custo. De repente caía. Levantava-se, agarrava-se ao paredão e subia de novo. Imaginava o que seria cair do alto. Enervava-se, se sentindo preso no início da escalada, feito criança. Quando caía, como que empurrado até pelo vento.

Mostrava-se traiçoeira demais a elevação. Recostado nele, olha para os lados. Desiste de fomentar uma mudança de planos. Resolve subir mais uma vez. Era o mais novo dentre os batedores. Porém, não queria ficar mal visto.

Nova tentativa, novo fiasco. Simplesmente não conseguia apoiar-se na superfície lisa da encosta vertical e desafiadora. Começa a perder as esperanças.

Ferido e desgastado pelos repetidos e inúteis esforços, se estende no chão e permanece imóvel.

Alguém se aproxima.

— Ei batedor, o que está fazendo aí?

Abatido e sentindo-se desmoralizado, não responde.

O recém-chegado, então, o deixa ali e segue mais adiante. Encontra uma faixa vertical. Um caminho visível, muito comprido e áspero que leva até o alto do paredão.

Infla, acomoda as almofadas de escalar e sobe o degrau revestido em cerâmica vitrificada. Identifica o caminho, chama pelos demais e vai embora. Missão cumprida.

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