Foto: Robert Collins
Por: Antonio Mata
— Joãozinho, já está tarde. Já passa das nove e amanhã cedo você ainda tem aula na escola. Hora de deixar o Tito em paz e cuidar de dormir.
Aos sete anos, Joãozinho gostava de brincar com o Tito, um gatinho angorá tricolor, fruto do gosto de Izabel, mãe do João Pedro, por gatos. João se divertia vendo Tito saltar para pegar as bolinhas que ele atirava no ar. E havia as bolas com fitas coloridas que sua mãe havia amarrado, e que ele atirava para que Tito as perseguisse. O tempo corria enquanto João oferecia brincadeiras.
— Lave as mãos, o rosto e escove os dentes para vir se deitar. O Tito também já vai para a caminha dele. Combinado?
— Tá bom mamãe. Quando voltar da escola, posso brincar com o Tito de novo?
— Pode sim, mas só depois do almoço Joãozinho.
— Tá bom mamãe. Boa noite.
— Boa noite bonequinho.
Joãozinho se encolhe todo, e rapidamente se põe a dormir. Já em sono profundo se vê levado por mãos muito gentis para outro lugar, que já era de seu conhecimento.
Era dia, o local estava cheio de crianças e João identifica algumas. Rápido se junta aos demais e vão caminhar pelo lugar, entusiasmados e observando tudo. Espaços amplos se apresentam aos seus olhos.
Recebidos por benfeitores espirituais ligados aos grupos de evangelização infantil, são reunidos em turmas menores, à sombra das árvores, para receber as lições previstas para aquele novo encontro.
Temas como a necessidade da oração; o respeito mútuo como expressão do amor ao próximo; o auxílio aos colegas de escola; o respeito aos pais e aos adultos; são apresentados de forma simples de modo a facilitar a compreensão por parte das mentes infantis. Com o término da primeira atividade as crianças são então conduzidas ao ciclo de brincadeiras.
Vários brinquedos à frente, são balanços; gangorras; pula-pula; casinhas; pontes e torres para escalar; além de muito espaço para correr por entre os gramados de um verde muito vivo.
Ao redor, jardins com muitas plantas e flores intensamente coloridas que adornavam os espaços seguidos de bosques nas proximidades. Tias muito gentis acompanhavam a todos, conduzindo as crianças e oferecendo atividades, gincanas e brincadeiras.
Concluídas as atividades educativas e de recreação, mais uma vez as crianças são reunidas para retornar aos seus lares na Terra, onde seus corpinhos físicos descansavam. Por volta das três, até quatro horas da madrugada já estavam todos de volta. Algumas ainda acordavam munidas de boas impressões e de muito bem-estar. Sem no entanto, compreender direito o que havia acontecido, pois a regra é o esquecimento.
Porém, algumas crianças conseguem fixar bem em sua memória os momentos vividos do outro lado da vida e então se fazem portadoras desta experiência, e é normal que queiram contar aos pais. Existem aqueles que lhes dão atenção, que deve ser discreta e sem valorizar por demais o ocorrido, de modo a não criar ansiedades desnecessárias à criança, portanto, sem cobranças.
Existem ainda aqueles pais que não ligam muito, deixando tudo no campo dos sonhos. Tudo bem, desde que a criança tenha a oportunidade de ser ouvida. Mesmo para aqueles que se lembram bem do ocorrido, a tendência é que esqueçam rapidamente, por conta de dispositivos naturais da memória humana. O que não é de modo algum recomendável, é insistir para que ela conte coisas que tenha visto. A criança, muito cheia de imaginação, fará até um bonito relato, porém, será fruto da imaginação infantil.
Joãozinho foi então chamado carinhosamente por sua mãe para se preparar para mais um dia de aula. Logo que se põe de pé, se lembra do ocorrido e conta seu sonho para sua mãe, que lhe sugere, quando voltar da escola, fazer uma historinha com aquilo que havia lhe contado. Sendo assim, logo após o almoço, Joãozinho sentou-se para escrever uma história daquilo que viu e ainda lembrava. Acomodou-se e então começou:
— Agora vou contar, a noite que virou dia...