Por: Antonio Mata
Enquanto subia os degraus de acesso apressadamente, não levava consigo maiores preocupações. Lugar conhecido, encontro conhecido, com gente conhecida e hora certa.
Entrou no salão, cumprimentou os presentes como de costume. Estava tudo certo e no seu lugar. As pessoas sorriam e conversavam. Logo dariam continuidade ao encontro da tarde.
Estava de pé e ao virar-se percebeu sons que provinham de uma porta lateral. Normalmente de pouco uso. Supôs que alguém estivesse do outro lado e não conseguisse entrar, imaginando que provavelmente estaria trancada. Se adiantou e caminhava no intuito de verificá-la.
Foram seis ou sete passos sem pressa, só isso.
Passos que mudariam a tarde, o lugar, o encontro e as faces, de um modo como nunca poderia imaginar. Logo estaria questionando seu senso de realidade, sua sanidade e razão.
Girou a maçaneta antiga, em bronze, de formato circular, em gomos tomados de zinabre nas suas extremidades. A porta estava destrancada e abriu com facilidade.
Uma fratura, um rasgo, uma variação no tempo? Não sabia nem entendia. Só visualizava e se perguntava que raios era aquilo. Por mais que insistisse em abrir a porta de uma vez. A mesma parecia submetida a uma espécie de slow motion.
Perturbado, perguntava de si mesmo, “Que diabos tem essa porta?”. Não demorou a entender que não era só a porta. Seu braço, seu corpo todo. Tudo se movimentava lentamente, por mais que insistisse em abrir a porta de uma vez.
Finalmente completou o movimento. Estava escuro ali.
Foi aos poucos que começou a definir as primeiras imagens diante de seus olhos. A primeira reação foi querer correr dali. Pensou no salão e as pessoas ali reunidas. Avançou na direção da porta. Todos se movimentavam submetidos ao mesmo slow motion. Fosse seu esforço para fechar a porta e deter a passagem, fosse no sentido contrário, de onde se insistia em entrar, em invadir.
Seres estranhos de formas estranhas. Coleção de dentes e unhas acompanhados de um certo zumbido, grunhidos e algo que lembrava animais enfurecidos. Serpentes desconhecidas, lagartos enormes. Misturas de peixes e répteis.
Isto só pode ser um pesadelo, pensava. Mas, de uma realidade assustadora. Garras afiadas tentavam alcançar suas mãos e braços enquanto lutava desesperadamente por fechar a porta.
Não fazia nenhuma ideia do tempo daquele slow motion aterrorizante. Onde suas forças se esvaíam, sem que conseguisse seu intento. Seus braços e mãos sangravam.
Virou-se em um esforço desesperado empurrando a porta com as costas. Forçava, insistia, forçava de novo. Para logo em seguida empurrarem de volta. Principiou a gritar, como um homem perturbado, alucinado e enlouquecido. Urrava, berrava pedindo ajuda e socorro. Prestou atenção adiante.
Arregalou os olhos enquanto o resto de realidade se perdia.
Queria fechar a porta, não conseguia, queria sair dali, não havia como. Pediu, gritou por ajuda, tudo inútil. Estava tudo bem na sua frente. De boca aberta, os olhos esbugalhados, o ar lhe faltando. Tudo lhe anunciava o colapso.
Antes dele, antes de colapsar, a constatação estarrecedora. Em um quase semicírculo, todos assistiam. Os cumprimentos, os sorrisos, as conversas. Tudo havia estranhamente cessado.
Como que apáticos, letárgicos, mediunizados, apenas lhe observavam, na sua agonia, no seu desfalecimento. Embasbacado, rendeu-se àquela estranha sequência de episódios mortais e tenebrosos.
A porta recebeu forte empurrão do outro lado. Quando finalmente caiu. Sonho, pesadelo, duelo. Enquanto caía de peito no chão, olhava para as pessoas a uns poucos metros à frente.
Os seres tenebrosos o alcançaram, lhe cravando suas garras. Avançaram na direção dos demais e finalmente invadiram o salão. Queria sair, queria acordar, queria viver. Mas, não deu.