Foto: publicdomain
Por: Antonio Mata
As autoridades levaram aquilo muito a sério. Tinham de qualquer maneira que justificar o enorme valor gasto com todo o serviço de recuperação do prédio de época, além de mobiliário e demais utensílios antigos para fazer uma boa reconstituição.
Artigos e estruturas originais foram trabalhados e recuperados minuciosamente. Depois de quase dois anos de esforços, e muito dinheiro investido, a antiga casa boêmia, de fato um botequim daqueles grandes, ficou pronto para a inauguração.
Presença de autoridades, repórteres e representantes da sociedade local. Pessoas que defenderam toda a empreitada para a recuperação do antigo botequim, com o dinheiro público. Falas, discursos, agradecimentos e o que mais houvesse para se dizer. Fotografias de ocasião, com muita gente bonita e elegante.
Ao final do evento, a pose para as últimas imagens dos presentes.
No dia seguinte os sites de notícias já exibiam as histórias e as imagens da noite anterior. Chamou a atenção dos leitores e internautas as manchas e sombras presentes em algumas das fotografias exibidas.
Começaram a questionar o que seria aquilo, e a qualidade das imagens realizadas. Algumas lembravam a cabeça e o tronco de uma pessoa, em meio às sombras. Em outras aparecia mais de uma sombra, com corpos sem maior definição. Houve quem criticasse e condenasse o trabalho dos fotógrafos contratados para registrar o evento.
Havia sombras sobre os ombros, lembrando a mão de alguém. As pessoas perguntavam: “mão de quem?”. A criatividade dos internautas logo se manifestou. O “mão branca”; o “mão preta”; o “luva de caboclo”. Aí virou avacalhação. Aquilo estava ficando com cheiro de tiro querendo sair pela culatra.
Em outra foto uma pessoa aparecia sorridente, só que havia uma faixa enegrecida em volta de seu pescoço. Era um braço? Um defeito na imagem? Ninguém sabia dizer. Um internauta julgou ser um mata leão, pois o fotografado seria um penetra. Queriam saber quem era o segurança. Os palpites se sucediam nos comentários.
Alguém colocou o angu de caroço no Youtube, a arena dos dias de hoje. Outra onda de especulações e brincadeiras intermináveis. Views até para quem não viu.
As fotos finais, aquelas com as pessoas reunidas, tinha grande quantidade de sombras no fundo. Pareciam cabeças de pessoas, dezenas delas. Objetou-se que seriam convidados que ficaram no fundo. Contudo, estavam junto a uma parede. Só se fossem de papel, sugeriu alguém.
Quando da despedida das pessoas, já na rua, algumas imagens foram feitas. Surgiram sombras no capô dos veículos e dentro deles. A postagem de muitas fotos não foi autorizada. Outra tolice. Alguém postou tudo. Um monte de sombras, um monte de manchas, que lembravam cabeças, mãos e braços.
Justificou-se dizendo se tratarem de defeitos, má iluminação, arquivo danificado, reflexos, toda sorte de coisas. Lá pelas tantas um leitor indagou no site: “o que será que aquela gente levou nos carros para suas casas?”
Dessa vez não houve desaforos, brincadeiras e nem resposta.