Por: Antonio Mata
Havia se empolgado com a chegada da primavera. Também, rádio, tv e redes, anunciam a estação das flores, dos jardins tomados de cores vivas.
— É o tempo das roupas leves, com mais insolação, a moda renova suas campanhas de publicidade. Mais gente nas ruas, com os dias já se estendendo um pouco mais. Comenta para o amigo, as razões de sua empolgação. Camilo continua andando ao seu lado, pensa um pouco e lhe diz:
— Mas aqui só tem verão.
— O quê, como assim só tem verão? É a primavera, está na tv, na Internet, até nesses jornaizinhos que ninguém compra mais.
— Mas aqui só tem verão Fátima, é assim, aqui só tem verão.
— Camilo não notou que o clima está diferente? O tempo mudou, e foi para melhor.
— Agora quem não entende sou eu Fátima. Confesso que não vi essa sua mudança. Por acaso você já andou sentindo frio?
— Eu Camilo, com frio na primavera? Nesse solzão todo?
— Me fala mais da sua primavera Fátima.
— Ora, eu a vejo por todos os lados, está nas flores, no céu azul, nos pássaros, nos animais. Vejo no colorido das ruas, nas pessoas passando. Não é só a roupa, sei lá, as pessoas ficam à vontade. Os fins de semana são diferentes, as pessoas gostam de sair.
— Tá legal, eu já entendi você. Me faz um favor, esquece que estamos no final de setembro. Deleta, apaga tudo. Já apagou?
— Sim, e aí, o quê que tem? O quê que isso tem a ver?
— Agora vamos pegar o seu discurso inteirinho e levar para janeiro. Pronto, já levou? Ok, agora pega isso tudo e leva para abril. Já levou tudo? Leva para agosto. Já foi? Leva também para novembro. Leva para o mês que você quiser. E aí, entendeu?
Silêncio.
— É assim, calor, chuva, céu lindo, flores. Aqui só tem verão.