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Assembleia

                                                                 

                                                                                                                            Foto: LarissaK

Por: Antonio Mata

Baixou-se a iluminação do ambiente. Foi o suficiente para que a movimentação se sucedesse. As imagens vivas e realistas, diante dos olhos. Falavam da chegada de um grande número de participantes que se apresentavam para o encontro.

Só dois palmos adiante e a beira do rio se mostrava. Canoas, pelo menos umas dez delas, trazendo indígenas das colônias próximas, umas 20 pessoas cada, entre homens e mulheres, que sorridentes desembarcavam logo ali na sua frente. Mais para a esquerda, caboclos igualmente chegavam em suas canoas impulsionadas pelos motores de rabeta.

Pouco atrás, já por terra, grupos distintos se apresentavam também. Freiras e padres com seus trajes usuais. Pastores da igreja reformada. Antigos caçadores, agora a serviço da proteção animal, interferindo nas decisões e ações de seus próprios pares, seres da terceira dimensão, como foram um dia.

Antigos caçadores-coletores dos produtos da floresta e agricultores. Grupos de seringueiros adentravam o local, agora como guardiões das matas, dificultando ações voltadas para o simples desmatamento e derrubada das seringueiras nativas, entre outras espécies.

Os boiadeiros não deixavam de se reunir e se manifestar. Já sabem de longa data que a pecuária na região, tende a compactar o solo, depois de sofrer a derrubada da floresta.

Enfim, garimpeiros e faiscadores que venderam seus melhores dias, sua melhor juventude, na busca da ilusão da riqueza fácil enfiada em pepitas douradas. Muitos encontraram apenas a doença, o assassinato e a miséria.

Fazendeiros e latifundiários, que outrora acumulavam terras se valendo de registros fraudados, os grileiros, em seguida expulsando e matando, índios e caboclos. Reunidos ali, agora buscavam a remissão das antigas falências e desenganos. O desejo em querer se apoderar daquilo que nunca pertenceu a ninguém, a não ser ao próprio Criador. Nunca passaram de meros usufrutuários, assim como todos os demais.

Militares, agora a serviço das Forças do Bem, prosseguiam em sua missão de proteger as fronteiras. Os guerreiros da Amazônia, se apresentavam em armaduras. 

A natureza do combate assim o exige, na detenção e enfretamento de invasores externos, interessados em abrir passagem para invasões no plano físico.

São sabedores de que a guerra se vence, primeiro, do outro lado da vida, no combate contra toda sorte de feras e aberrações. São zumbis, seres submissos que os senhores da escuridão lhes arremessam, buscando desesperadamente uma brecha, uma passagem, para invadir a grande fortaleza.

Lutas intensas, silenciosas lutas heroicas. Trazem a bandeira do verde, do amarelo, do azul e do branco. Junto a ela, a bandeira de Ismael, o retângulo branco, com as inscrições em azul Deus, Cristo e Caridade. Guardiões indomáveis do patrimônio de vida que lhes foi designado.

Autores da história amazônica, desde os seus primórdios, antes mesmo da colonização, se acomodam ao redor. Pelo menos três mil espíritos irmanados encontram-se presentes. A reunião começará em breve.

O coordenador do encontro mediúnico da noite os saúda:

— Boa noite a todos os amigos e irmãos, presentes dos dois lados da vida. Que a paz do Senhor esteja entre nós.

O tempo já não existe; nem títulos; nem classes; nem pobres; nem ricos; nem raças ou credo religioso. Só a vontade de aprender e de servir.

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