Por: Antonio Mata
Lembrava mesmo um local de repouso. Uma espécie de albergue com muitas camas enfileiradas. Sem ao menos uma gaveta onde pudessem guardar objetos pessoais. Não quis perguntar.
Só as camas, aparentemente em fileiras que não tinham fim. Não dava para ver. Notou que todos estavam dormindo. Passou por diversos leitos, todos ocupados e todos dormindo. A despeito do número enorme de dorminhocos, o ambiente era arejado, tranquilo e tomado de uma penumbra muito suave.
Em outro espaço, pessoas aguardavam de cabeça baixa o momento de atendimento. Ela juntou-se aos demais a atendê-los. Aproximou-se mais um pouco. Espécie de larvas se aderiram àqueles corpos, daí a necessidade de limpá-los.
A equipe de socorristas era extensa. Nenhuma expressão de repulsa ou desinteresse pelos doentes. Sucessivamente, o atendimento chegava a todos os presentes.
Em outro grupo, cabeças cobertas de ferimentos. Uma fuligem, um resíduo enegrecido sobre elas. Pairava sobre as cabeças, como que imantada. Era própria de cada um. Já tinha visto a descrição do fenômeno em um livro.
Como se lhe fosse tudo muito familiar. Já estivera ali antes. Apesar de certas coisas que ainda não entendia. Foram pelo menos cinco dias de trabalho, assistindo homens e mulheres. Sentia-se cansada. Por isso, ao final adormeceu.
É assim que cinco noites de sono equivalem a trinta dias de trabalho contínuo, dedicado aos demais. Na noite alta, anônimo, singelo e silencioso.
Ouvia suave, mas persistente melodia. Estendeu a mão e desligou. Espreguiçou braços e pernas sobre a cama. Ela levantou-se e foi preparar os filhos para a escola.