Por: Antonio Mata.
Não que tenha sido sem avisar, mas o dia, já de cara, parecia ter amanhecido diferente. Muita movimentação que acabou chamando a atenção dos demais inquilinos. Com cara de quem acordava de mau-humor, puseram a cabeça para fora.
Naquele vai e vem, tratavam de embalar miudezas. Enrolaram a louça em folhas de jornal, assim como demais itens de vidro. Talheres guardados em separado. Caixas e mais caixas de livros e utensílios diversos.
Quinquilharias de computador, só entulho, nem prestava mais. A tela antirreflexo para monitor de 17 polegadas, um daqueles pesadões, conseguiu entrar em uma das caixas e pôde seguir com o resto. Além daquelas outras coisas que nem se sabe por que foi que guardou. Coisa de ratos abandonando o navio.
Duas caixas grandes cheias de brinquedos já estavam prontas e outras cheias de roupas. Iniciaram a colocar os móveis para a garagem. Depois a TV, em uma grande caixa de papelão e outros equipamentos. Então, veio geladeira, fogão e demais equipamentos elétricos de cozinha.
Enfim, tudo começou a seguir para o caminhão. Este, já estava estacionado na frente da casa. Acomodaram as coisas maiores e depois um monte de caixas.
Tudo pronto, o caminhão partiu. Na casa, tudo vazio e pequeno monte de papéis velhos deixados para trás. Além de coisas sem nenhuma serventia. Aquelas que não conseguiram embarcar.
Já espantado o sono, tendo assistido toda a mudança, adiantou-se até o meio da sala e gritou.
— Casa nova, gente, casa nova! — A barata cascuda estava feliz!
— Vamos, vamos antes que apareça alguém!
Rapidamente formigas de várias espécies, que nunca deixavam entrar, buscavam as frestas internas mais a vontade. Aranhas se apossaram das quinas superiores das paredes. Baratas e cupins se aproximaram e se dirigiram aos demais pontos da casa.
— Baratas comigo! A cozinha fica para aquele lado. — Escolheram suas reentrâncias, seus cantos de cima e o buraco de baixo. O ralo! Ah, o ralo!
— Cupins, aqui depressa! Encontrei!
— Encontrou o quê?
— Armários embutidos aqui! E não é de alvenaria, uhuu! — Se apossaram dos quartos.
Aí então, silêncio, escuridão, umidade e mofo, muito mofo. Pelo vidro quebrado no basculante da cozinha, os pombos. Pois, foi tudo muito rápido. Muitos pombos.
Casa toda ocupada mais uma vez. Por enquanto...