Foto: Wikimedia Commons
Por: Antonio Mata
Nossa Senhora de Copacabana sempre movimentada, um monte de gente e um monte de veículos. Precisava percorrer a avenida, tanto na ida quanto no retorno, era o caminho mais curto.
Na altura do Rei da Voz, uma aglomeração na frente da loja prendeu sua atenção. Vários televisores ligados monopolizavam a atenção de todos. Queria saber do que se tratava aquilo, mas não pareceu ser muito fácil, pela massa compacta de pessoas. Esticou-se por alguns instantes, buscando superar o grande número de barreiras corporais, até desistir.
O que pôde observar por um momento foram cenas em preto e branco de má qualidade de imagem. Tinha visto qualquer coisa sobre aquilo. Abandonou aquela aglomeração silenciosa. Perdeu o interesse e retomou o caminho para casa. Logo sua mãe iria lhe cobrar um banho rápido, enquanto preparava o almoço.
Já em casa liga a tv enquanto sua mãe o adverte:
— Não adianta, só fica passando essa chatura o tempo todo. Eu desisti e desliguei.
— Falou que o homem chegou na Lua mãe.
— Pois foi por isso que desliguei. Chegaram na Lua, não sabiam o que fazer lá. Só ficavam andando de um lado para o outro.
Olhando para a tela da televisão, aos nove anos de idade, com uma voz relatando tratar-se de um fato histórico para toda a humanidade, notou que continuavam andando de um lado para o outro, e de vez em quando apanhavam alguma coisa que teria caído no chão.
Desanimou e concluiu que sua mãe é quem tinha razão. Afinal, em dez minutos ali sentado na frente do televisor, realmente não pareciam fazer nada mais importante que se pudesse ver. De fato, havia se tornado muito chato e desligou a tv.
O que assistiam, e que logo se tornou chato, era uma gravação em vídeo tape das imagens enviadas pela Nasa. Tudo havia ocorrido do final da tarde de domingo, das 17:17h em diante, hora de Brasília, até 02:01h. O retorno da Apollo 11 (somente a cápsula de sobrevivência) se deu às 13:44h, só que já haviam desistido de assistir.
As cenas dos astronautas Collins, Armstrong e Aldrin, descendo de um helicóptero. Depois cruzando um tapete vermelho e adentrando uma câmara de quarentena, ficaram para o jornal das oito da noite. Aquele que passava pouco antes da novela.
Helinho achou mais interessante buscar novas formas de invadir o Forte Apache. Com brinquedos espalhados pela sala, fomentava novos combates entre índios hostis, montando cavalinhos sem cela e sem estribos, contra soldadinhos de plástico que não largavam o forte de jeito nenhum. E assim a conquista do espaço se perdeu e o sucesso da Apollo 11 não conseguiu fazer história na família do garoto. Não, até antes da novela.
Voltando no tempo
Em 16 de julho de 1969, a missão Apolo 11 teve início com a ignição do foguete Saturno V. Por volta das 13:43h, do dia 20 de julho de 1969, um domingo, o módulo lunar, deixou o módulo de comando, iniciando a alunissagem. Foram necessárias trinta orbitas, antes que localizassem o Mar da Tranquilidade, local selecionado para o pouso, que acabaria deixado de lado por ser considerado inadequado devido ao relevo.
O propósito anunciado era produzir imagens da superfície lunar, fixação de um sismógrafo automático, instalar um sensor para medição do vento solar, além de proceder à coleta de rochas e amostras de solo.
Entretanto, não era só isso.
Séries de fotografias de ótima resolução, inclusive coloridas, obtidas tempos antes, davam conta da existência de construções diversas em solo lunar, grandes instalações, como torres e edifícios de tamanho avantajado, sem que, contudo, pudessem identificar a finalidade de tais construções.
Havia um marco zero, muito anterior a tudo aquilo que viria depois. A situação mais controversa, mais submetida a tentativas de ocultamento, despistamentos e humilhações. O caso Roswell, no estado do Novo México, em 08 de julho de 1947.
Nesta ocasião um objeto voador não identificado caiu no deserto, o primeiro registrado, de vários acidentes desta natureza que ocorreriam no mundo, e a partir daí, sempre acompanhados e investigados.
No início dos anos 50, já existia a partir de relatos de pilotos militares e civis, que então passaram a ser registrados sistematicamente, a suspeita de que, como se diria muito depois, há alguma coisa lá fora, se referindo ao espaço exterior, como origem dos chamados Ovnis que realizavam manobras, incapazes de se fazer com os meios aéreos terrestres.
Com o sucesso no lançamento do satélite soviético Sputnik I, em outubro de 1957, os EUA trataram de centrar toda a atividade de pesquisa espacial em um único órgão, e criaram a Nasa, a Agência norte-americana para o espaço, em julho de 1958.
Na época do governo de Dwight Eisenhower, presidente dos EUA de 1953 a 1961, ficava claro que algo precisava ser feito. O que se buscava era não ficar para trás no nível do conhecimento, não apenas tecnológico, mas também dos fatos.
Havia uma certa dose de incerteza, pelo desconhecido, e de ansiedade, pela presença dos soviéticos, naquilo tudo. A correria para sair daquela situação indigesta se tornou inevitável, chegando aos demais como a Corrida Espacial.
A sonda Surveyor I, lançada em junho de 1966 obteve mais de 11 mil fotografias de excelente qualidade. A narrativa oferecida na época aos meios de comunicação, dava conta de que tais imagens deveriam orientar a escolha do ponto de alunissagem, de uma futura missão tripulada.
Quando as fotografias foram então submetidas a análise pormenorizada, veio o encontro à realidade. As fotografias das instalações na Lua foram de grande impacto e um grande assombro. Mantidas em absoluto sigilo, deixavam claro que precisavam chegar no satélite natural antes dos russos, o mais rápido possível. Era tudo óbvio, se um lado sabe, o outro logo irá saber. Se é que já não sabia.
Com a comunicação dirigida a Houston “A águia pousou”, os astronautas se prepararam para o início da exploração do solo lunar e demais instalações, o que só se daria seis horas depois dos preparativos necessários.
Finalmente Armstrong deixa o módulo lunar, gravando pela primeira vez uma pegada humana sobre o solo da Lua. Iniciavam-se as operações previstas.
Não há propagação de sons. Fora do traje de sobrevivência, nada se ouve, internamente, apenas o som do intercomunicador e sua respiração feita com oxigênio puro.
Olhando para a superfície, tudo parece empoeirado, com um aspecto esbranquiçado, como giz, daí ao cinza em vários tons. A poeira lembrava tal e qual um deserto onde o vento não sopra e por isso se acumula. O conjunto se percebia monótono.
O que ele vê se trata de regolito, é assim que o solo da Lua é chamado, é o resultado do acúmulo de resíduos, poeira fina e fragmentos de rocha, provocados por sucessivos impactos de meteoritos ao longo de quatro bilhões de anos. Por debaixo da camada, normalmente fina, o que existe é a rocha sã, formadora do satélite natural.
Como logo se descobriria, esta poeira possui um aspecto pegajoso, com ela se fixando nas botas e nos trajes de sobrevivência. Como se perceberia, já no módulo lunar, é que esta poeira, além de ser pegajosa, possuía um mal cheiro, bastante desagradável.
Olhando para o céu, rapidamente notaram a ausência de estrelas, tudo está escuro. Fenômeno conhecido, pois acontece em função das luzes das grandes cidades também. É o solo lunar refletindo a luz do Sol.
Somente se quebra a monotonia ao se observar o azul e branco, típicos da Terra, em oposição ao negro do céu e ao branco acinzentado lunar.
Submetidos a baixa gravidade, os 120 quilos do traje espacial completo são aliviados, auxiliando na movimentação, admitindo ainda, dar pequenos saltos. Porém, fora do traje, a temperatura poderia cruzar os 200°C, assando seu usuário.
As atividades desenvolvidas em solo lunar, algo exaustivamente testado, repetido e verificado. Fixação da bandeira e placa comemorativa; câmeras, feixe de laser apontado para a Terra; o sismógrafo; além da coleta de amostras de rochas e poeira, acondicionados em sacos plásticos.
Já era madrugada, com os astronautas dando conta de seus afazeres, quando algo chamou a atenção de um deles.
— Houston, temos um problema aqui.
— Eagle, aqui é Houston, prossiga.
— Parece que temos companhia. Há algo aqui, uma nave diferente das nossas, um OVNI talvez. Ainda não sei, não é algo conhecido.
— Ok Eagle, Houston ciente. Prossiga com a missão normalmente.
As operações previstas naquela madrugada de segunda-feira, prosseguiram, sem que, no entanto, tirassem o objeto desconhecido do alcance de seus olhos.
Diferente, é o mínimo que se poderia dizer daquele objeto a uns trinta e cinco, ou talvez quarenta metros, logo ali na frente, banhado pelo sol e bem visível.
Muito brilhante, em tom metálico, e desprovido de saliências, como painéis, placas e antenas. Apenas flutuava, totalmente estático, a um metro e meio do solo.
Fosse de qualquer modo, naquele primeiro contato visual, ainda que muito curto, não parecia ser hostil. O fato de instalarem equipamentos e recolherem amostras, não lhe parecia ser algo importante ao OVNI. Sentiam que estavam sendo observados, tanto quanto eles próprios faziam o mesmo com o objeto brilhante. O trabalho prosseguiu.
Tornou a se abaixar para coletar mais uma amostra de rocha, quando ao erguer a cabeça, presenciou alguém de pé, próximo ao objeto. Deteve a coleta de amostras, fitava aquela nova presença, enquanto realizava novo contato com a base.
Nova comunicação:
— Houston, agora temos companhia.
— Eagle, aqui é Houston, descreva o que você vê.
Cabeça, tronco e membros haveriam de se repetir tal e qual um modelo? O Sistema Solar, um ilustre desconhecido, da Via Láctea o que se sabia era muito ínfimo. O sapo, a galinha e o burro também possuem a mesma divisão, e nem por isso são hominídeos, muito menos primatas. Sem chance de se parecerem seres humanos.
Aquele ser, logo ali na frente dos astronautas, não tinha penas de galinha, nem orelhas de burro, muito menos lembrava um sapo. Parecia ser viável uma pequena descrição.
— Houston, o visitante lembra um hominídeo, sem, no entanto, se parecer com os homens da Terra. Parece magro e muito pálido, sem trazer nada sobre a cabeça, vestindo uma roupa de aspecto leve e colada ao corpo, muito diferente dos nossos trajes espaciais. Diria que se confunde com as cores da paisagem. É o que posso dizer Houston.
— Entendido Eagle, prossiga com a missão e permaneçam dentro da área de cobertura das câmeras.
— Entendido Houston. Talvez já não seja mais possível. O visitante está se deslocando para cá.
O ser caminhava sem pressa na direção dos integrantes da missão Apolo 11. Logo estaria sob o alcance das câmeras instaladas nas imediações do módulo lunar.
O recém-chegado aproximou-se se detendo à sua frente. Ao ver de perto aquela figura esguia, achou por bem erguer a mão direita espalmada, gesto comum entre os homens da Terra, esperando ser compreendido.
O recém-chegado não só retribuiu o gesto, como foi direto ao ponto, motivo de sua presença.
— Já lhes foi permitido recolher amostras e colocar seus equipamentos de medição e imagem no local. Contudo, tão logo concluam sua coleta, deverão se retirar.
Falava de tal forma a não movimentar os lábios, sua voz, porém, totalmente clara e compreensível chegava diretamente ao seu cérebro. Achou por bem travar algum diálogo com o visitante, e então questionou:
— Agradecemos pelas amostras, serão submetidas a análises na Terra. Pode nos dizer o motivo pelo qual deveremos sair?
A resposta foi rápida e curta.
— Sua humanidade, neste momento, ainda não está preparada para este contato e este convívio. Por esta razão, precisamos que retornem.
— Eu entendi, vamos concluir e sairemos logo.
Sem maiores falas, após um curto gesto com a cabeça, o ser deu as costas e retornou ao que parecia ser sua nave. Dessa vez foi possível observar uma porta se abrir e pequena escada de acesso. O visitante ingressou na nave e então partiu, tão silenciosa e misteriosamente quanto havia chegado.
Comunicou à base em Houston, o resultado da conversa rápida com aquele ser que parecia saber de tudo o que estavam fazendo. Em seguida retomou o trabalho junto a seu companheiro e concluíram a missão sobre o solo lunar.
Regressaram ao módulo acondicionando 21 quilos de amostras de solo e rochas. Após cerca de 21 horas e 30 minutos de atividades sobre a Lua, regressariam ao módulo de comando.
O desenvolvimento das operações previstas na missão, tudo absolutamente novo em sua vida. Um encontro imprevisto e uma comunicação inesperada, de alguém desconhecido. As horas de tensão acumuladas cobravam o seu ônus.
O módulo de comando orbitava a 100km, acima das cabeças da equipe em solo lunar.
Ao buscar acionar os propulsores que colocariam o módulo lunar em movimento, para a acoplagem no espaço, com as mãos trêmulas, inadvertidamente danificou um dos disjuntores de ignição. Com um pouco de paciência e uma caneta de plástico, a pane foi superada.
Repensava os últimos acontecimentos e, tolamente se deu conta de uma coisa. Via o outro ser como um recém-chegado, um visitante. No entanto percebeu que eles os terrestres é que eram os recém-chegados naquele cenário. Chegaram antes na Lua? Viviam lá? A quanto tempo? Só indagações sem respostas.
A equipe descansou por sete horas, enquanto o módulo lunar era desacoplado e lançado na direção da Lua. As mentes estavam repletas de uma realidade que ainda precisaria ser discutida, onde certamente lhes pediriam o máximo de detalhes.
No dia 24 de julho de 1969, oito dias após o início da missão, os três integrantes da missão Apollo 11, regressaram com sucesso à Terra, sendo a cápsula de reentrada recolhida ao norte do oceano Pacífico pelo porta aviões Hornet.
Recebidos como heróis, pisaram o tapete vermelho rumo a uma câmara de quarentena, onde permaneceram por três semanas, cumprindo o protocolo internacional de exposição extraterrestre.
Tão logo se tornou possível, a conversa inevitável, repetida por diversas vezes e tudo sendo gravado. Também veio, ao final de todas as indagações e registros, uma ordem recebida.
— Foi magnífico o que vocês fizeram, o mundo e o país inteiro querem recebê-los e festejar o grande feito, sem dúvida e merecidamente. Contudo, é meu dever comunicar-lhes que nada, absolutamente nada do que viram, presenciaram ou ouviram, que seja relativo a qualquer outra presença, ou forma de vida na Lua, não poderá sair desta sala senhores. Todos compreendem bem o que lhes digo?
Todos comunicaram que sim, sendo que houve uma ressalva.
— Entendo sua preocupação, e das autoridades, é claro. Porém, tal conhecimento pode ser de grande valia para nosso próprio povo. É um fato novo, um passo incomum.
— Você tem razão, mas poderá ser também motivo de muita discussão sobre algo que não fazemos a menor ideia do que seja realmente. Nós não sabemos de nada, e isto também é um fato.
Fez-se silêncio na sala.
— O termo de responsabilidade e confidencialidade assinado pelos senhores continua valendo e este episódio termina aqui. Parabéns a todos pela ótima missão. Festejem bastante, afinal o país todo está em festa. Aproveitem o grande momento de suas vidas, e depois regressem a seus lares. Felicidades a todos.
Em casa, junto ao jardim no início da noite, prestava atenção na Lua cheia e prateada admirada por tantos, motivo de poesia, prosa e música.
O encontro na Lua nunca foi divulgado. Nunca pôde contar aos demais tudo o que presenciou. Já se vão mais de cinquenta anos.
Mesmo do outro lado, lá na Lua, daqueles que estavam lá, nada mais se soube. Talvez por ainda entenderem, eles próprios, de que ainda não estejamos prontos. Então, quem sabe um dia, possamos realmente saber. Quem sabe um dia...
FIM