Por: Antonio Mata
Desciam a rua como já tinha sido feito muitas vezes. As sandálias de borracha e calções largos, uma espécie de farda de qualquer um. Os olhos atentos ao que não lhes pertence.
Aos portões, janelas, acessos. A busca da tal da oportunidade para se invadir sorrateiramente as residências das proximidades. Afinal a oportunidade faz o ladrão. Não seria este o dito popular?
— Tá tudo trancado, ou senão, está sem nada. Casa vazia só presta se for pra levar as portas na cabeça.
— Que inferno! Passar a madrugada carregando porta velha. Não é possível que não apareça coisa que preste. Dinheiro, joia, um ferro. Qualquer coisa.
— Duas portas boas e você já ganhou o dia.
— Duas marmitas com refrigerante, você quer dizer, não é? Deixa de ser idiota. Tem que aparecer coisa boa.
— Melhor do que voltar sem nada.
— É só o que você encontra. Vai aparecer coisa melhor. Tô devendo e muito.
— Só te acompanho porque te conheço há muito tempo. A gente cresceu junto. Só por isso.
— Vai dar tudo certo. Calma que um dia vai dar tudo certo.
A oportunidade se fazer, a oportunidade de se perder, e enterrar o pouco que se tem. Sempre haverá oportunidade.
Escureceu, não tinha muito tempo. Um detalhe na rua deserta chamou a tenção dos meliantes.
— Viu aquilo? Saiu e deixou o portão aberto. E se a casa estiver também?
— E se estiver trancada?
— E se não estiver?
— E se tiver alguém?
— E daí, se não tiver ninguém?
— Só tem um jeito de saber.
Deixam o homem dobrar a esquina e penetram na residência, onde só havia uma lâmpada acessa do lado de fora.
Circulam às pressas pelos quartos, revirando gavetas, armários, em busca de algo de valor. Até que Genésio encontra o que mais buscava. O sonho de sua vida de ladrão ordinário.
— Achei, já achei. Agora vai ficar mais fácil. Vamos embora!
Não chegou a mostrar a Luís, o amigo de infância e de furtos pelas ruas da cidade. O acompanhou assim mesmo.
— Agora vou avisar o Anacleto que já tenho como acertar tudo com ele. Não te falei que ia dar tudo certo?
Luís, com um meio sorriso amarelo, acompanhava o amigo, sem grande convicção nas palavras que ouvia.
Foram apenas vinte minutos de caminhada até encontrar Anacleto. Na ocasião, atendia um sujeito, uma mistura de traficante com receptador de furto. Na ocasião, prestava contas de material recebido.
Espalhafatoso e falastrão, chegou interrompendo a conversa e acrescendo as suas falas.
— Agora você vai ver quem é o Genésio! Demorou, mas agora vai ver quem chegou!
Ato contínuo, sacou o revólver 38, que acabara de furtar em menos de meia hora.
O ato repentino fez com que os seguranças do local sacassem suas armas.
— Larga isso, larga isso!
— Peraí, só vim mostrar!
— Larga, larga!
Genésio, por puro nervosismo, fez menção de apontar a arma. Foi o suficiente para os disparos começarem.
Luís estava petrificado ao lado de Genésio caído no chão. Alguém se aproximou e pegou seu revólver.
— O idiota estava com a arma descarregada!
— Imbecil! Some todo mundo daqui. E você, magrelo, se abrir o bico é o próximo.
A oportunidade faz o ladrão. Às vezes, até providencia para que ele deixe o cenário da vida, aos 17 anos. Isso, antes que possa afundar mais ainda, no lamaçal que ele mesmo criou.