Por: Antonio Mata
Lá pelas bandas paraibanas de Bayeux. Passava alguns dias na casa de amigos. Por gosto, saía para caminhar e ver as coisas, as pessoas. Sentir a gente e o clima do lugar.
Caminhar era hábito antigo. Um sentido de silenciosa identidade. Já que não costumava parar para conversar. Apenas observava as ruas, com seus poucos veículos e passantes, naquele domingo.
Ainda pela manhã, se cansou da caminhada e achou de se dirigir a um ponto de ônibus, ali perto. Só para não ter de retornar a pé. Não com aquele sol todo na cabeça. Além do que, perdera a noção do tempo e havia se afastado demais.
Ainda se aproximava e em um primeiro momento não pôde entender por quê. Era uma gritaria, uma discussão de rua. Desatou quando se aproximava do local. De pé, ali no ponto havia somente um homem. Alguém comum, gente do povo que não chamaria a atenção por nada.
Do outro lado da rua, um furgão barulhento e lotado, havia estacionado quase em frente ao ponto de ônibus. Cheio mesmo, fosse lotação ou um passeio. Um time de pelada ou algo assim.
Lá de dentro, algumas pessoas gritavam:
— Vai paraíba! Vai bunda suja! — Outras pessoas dentro da Kombi, vaiavam, faziam coro e gritavam toda sorte de ofensas.
O homem, a um metro e meio ao lado, olha e pergunta:
— Visse?
Sem entender, respondeu.
— O quê?
— Visse?
Procurava entender o que dizia o homem, agora transformado e colérico. De rosto avermelhado e boca aberta, parecia transtornado com o que acontecia do outro lado da rua.
Tornou a perguntar.
— Visse ali?
— Ah, aqueles caras na Kombi. É, pude ver sim.
Meio sem graça, concordava em ter visto, pois era verdade. Só não tinha interesse em se meter naquilo. Com o monte de gente, ali dentro do carro. Isto poderia ser uma má ideia.
Começava a se incomodar com o episódio inesperado. E mais ainda com o que viria logo depois.
— Vô matá tudim!
— O quê?
— Vô matá tudim!
O sujeito engrossou o caldo, e não foi pouco. Para gente do povo, o cenário estava prestes a mudar vertiginosamente.
Sacou de uma arma, metida por de trás da cintura e abriu fogo na direção da Kombi. A linguagem figurativa bem que atendia ao repentino e inesperado ocorrido: o cavalo saiu pelo quebra vento da janela do carro.
Enquanto tiros eram disparados, era gente gritando, saltando e se empurrando em busca de onde se pudesse sair daquele carro e sumir dali o mais rápido que pudessem.
A doideira toda, desde o momento em que chegou no ponto de ônibus, não durou quinze segundos. Em seguida o veículo ficou deserto, de portas abertas e perfurado de balas. Na rua já não se via vivalma. Um silêncio nervoso se seguiu aos disparos.
Paralisado, no meio da confusão, quando olhou novamente à sua direita, o sujeito colérico, correndo e subindo a rua, já ia longe. Fugia, buscava mais? Nunca soube, nem procurou saber. Minutos a seguir, chegou seu ônibus.
Já na casa de seus amigos, tinha um episódio bizarro e perigoso para contar. Entretanto, não fez isso. Conversou amenidades, coisas comuns de todo dia e já à noite, foi tratar de dormir sem pensar mais no assunto.
Saiu cedo e já estava em frente ao farol do Cabo, aguardando o amanhecer. Admirou, fotografou e quando terminou, esperou a padaria mais próxima abrir para tomar café.
Aqueles jornais de meia dúzia de folhas, que parecem adorar assassinatos e coisas do gênero, relataram a confusão e um certo tiroteio entre grupos rivais, em certo bairro da cidade, ocorrido naquele domingo. Atribuiu-se a confusão toda ao tráfico de drogas na cidade.
Havia a fotografia de um carro crivado de balas, mas, não se sabia muito a respeito. De estranho, havia o fato de que ninguém havia retornado ao local. Muito menos apareceu o dono da Kombi.