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Por: Antonio Mata
Fazia um pouco de frio, com o qual também pouco se importou. Era amanhecer de um dia comum. Em poucas horas o ar começaria a se aquecer, o que é muito bem-vindo.
Só assim podia cuidar de realizar seu padrão de busca e sobrevoar em um raio de 150km. Em casos extremos, poderia necessitar de um percurso maior. Este era o seu afã e o segredo de sua sobrevivência, procurar longe e procurar muito.
A capa de poucas nuvens baixas, naquela ocasião, parecia querer dissipar. As termas se definiam no espaço, um convite aos que apreciam as grandes elevações.
Cruza as poucas nuvens até alcançar uma camada maior de nuvens cirrus, por volta dos 9 mil metros. Precisa subir, o padrão de busca se torna cada vez mais eficiente com as grandes alturas. Não precisava aguardar a dissipação dos cirrus, que de qualquer maneira, tenderia a passar.
Bem-dotado, briga pela ponta quando o assunto é acuidade visual, podendo enxergar a carcaça de um antílope a 10 mil metros, logo abaixo. Ou um cachorro a 7500 metros. Pode passar até sete horas voando em seu padrão circular de busca.
Não bastasse, era ainda preparado para respirar as quantidades ínfimas de oxigênio da estratosfera, e se tornava eficiente planador com as asas de 2,6 metros de ponta a ponta.
Cada metro de suas asas precisava carregar 3,4 quilos. Um moderno planador como o alemão Duo Discus X, precisa carregar de 24 a até 35 quilos. O animal era um planador vivo.
Existia fazia tempos, e de vez em quando passava exatamente ali, e fazia sempre aquela mesma coisa. O jato levava 122 pessoas naquela manhã, de Marrakech para Tânger, no Marrocos. Estava a quarenta minutos do destino, e logo estaria prestes a pousar no aeroporto de Tânger.
Se aproximava da camada de cirrus. Cruzava tranquilamente a camada de nuvens, perdendo altura lentamente. Logo acima, e vivendo ali naquela região desde tempos imemoriais, um abutre-de-rüppell, de vez em quando passava exatamente ali, e fazia sempre aquela mesma manobra.
De repente se viu em um deslocamento na mesma direção do avião. O abutre, a 35 km/h, resolveu dar uma guinada à esquerda, perder altura e iniciar sua descida.
Cruza a camada de cirrus e aparece na frente de um jato de passageiros, que voava a 880 Km/h. Ao final da manobra do abutre, estão próximos demais. O choque agora se torna inevitável.
Um dos motores Turbofan, o esquerdo, recebe o impacto danificando o compressor, com o pássaro aos pedaços adentrando a turbina, que explode ao arrebentar suas lâminas.
Fragmentos de metal são lançados no ar, alcançando as laterais do corpo do avião, perfurando-o várias vezes, e rompendo a pressurização interna. Tudo em pouquíssimos e assustadores segundos. As máscaras de oxigênio caem automaticamente, e o avião entra em modo de emergência.
A guarnição de bombeiros do aeroporto de Tanger, com as luzes vermelhas e o som costumeiro das sirenes, colocou-se nas laterais da pista e aguardava para receber o avião com as 122 pessoas a bordo. As estruturas aerodinâmicas da aeronave não sofreram maiores abalos, mas ainda assim, a situação é crítica.
Com habilidade, seguindo as normas padronizadas condizentes com a natureza da pane, a perda de um dos motores e da pressurização, porém sem focos de incêndio no avião, se aproximaram do eixo da pista.
Em poucos instantes o avião tocava a pista e em poucos minutos desliga seu motor direito. O passageiros começam então a ser recolhidos e encaminhados para atendimento médico.
Oito passageiros foram conduzidos ao hospital em estado de choque, um sofreu cortes profundos por conta dos destroços lançados para dentro do jato. Outros três sofreram cortes leves. No cômputo geral todos se salvaram, incluindo a tripulação.
Se fosse computado, este teria sido provavelmente, o segundo acidente aéreo envolvendo um abutre-de-rüppell em grande altitude. Foi sem nenhuma dúvida, algo inesperado.