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terra de espíritos

histórias, crônicas e contos

Inquietação

                                                                                      

                                                                                                                                                                 Foto: Dezalb

Por: Antonio Mata

Pela enésima vez, viu-se observando o formigueiro que corria lá embaixo. Aquilo mais uma vez o incomodava. As coisas ao redor perturbavam, perdiam sentido.

O desassossego, ansiedade, medo. Sentia vontade de sair dali, fosse para onde fosse, precisava partir.

Não se importou com a hora, apenas se pôs a caminhar, lentamente, passos leves, ainda que sem rumo. Divisava algo ao longe. Nunca teve maiores interesses, porém, agora sentia-se mal onde se encontrava, e sem saber qual a razão.

Era noite quando lá chegou, e já estranhando. Burburinhos, falatórios, a nojeira das buzinas. Tipos de sons que não tinham nada a ver consigo. Muito menos a vontade de querer tais presenças. Se era isto o que havia, não era isto que queria.

Prosseguiu em silêncio, meio que pelos cantos, sem vontade nenhuma de aparecer, não para aquela gente. Levava consigo a mesma contradição que o acompanhava desde o início. Não valorizava nada nem ninguém sob suas vistas. Logo enjoou daquilo, e sem a contradição passar.

Não estava bêbado, só desnorteado. Achou um lugar qualquer, longe da confusão e adormeceu.

Acordar, levantar, cuidar da vida, das coisas, se achar naquele lugar esquisito, ou desaparecer dali. Teria mais um dia para entender aquele comportamento tão estranho quanto descabido. Não se sentia de lugar nenhum, era um buscar sem saber o quê. Apenas vagar na esperança desse encontro e se livrar da agonia que ainda sentia.

Acordar, levantar..., seria o caso, se fosse para prosseguir assim.

Uma dor repentina e aguda na coxa direita. O susto, o urro, a dor. Que horrível, que dia de cão, não é assim que o sol nasce. Dessa vez, alguém parecia estar mais incomodado com ele, do quê ele mesmo. O suficiente para fazer aquilo, enquanto estava  dormindo no chão.

O olhar, agora esbugalhado de pânico. Fora atacado, e muito rápido, igual mendigo de rua. Confusão dos diabos. E agora, como sair dali? O corpo doía, a cabeça não atendia.

A perna arrasta, a vista turva. Outra vez a dor, forte e aguda, na outra perna. Caiu sem entender, caiu sem sequer ter se levantado. Desligou, adormeceu, desmaiou, morreu? Ninguém viu? Se não é daqui o que faz aqui?

— Disparei duas vezes por garantia. Ele é muito grande, é preciso ter cuidado. Dizia o homem.

— Fez bem, melhor prevenir do quê remediar. Vamos colocá-lo no carro. Quando acordar, já estará preso. Aí decidiremos o que fazer com ele. É lindíssimo. Concluía o outro.

— É sim, e é a segunda vez que uma onça entra na cidade, só este mês. O que será que deu nesses bichos? Esqueceram que aqui é bem mais perigoso do que lá? O que será que ele queria ou estava procurando?

— É no mínimo estranho. Onças, pacas, jacarés, jiboias, veados, antas, preguiças, estão vindo para a cidade. Por que será? Nunca vi isso.

— Melhor providenciar mais petardos de sonífero, vamos precisar.

Se você souber da presença de animais silvestres, perdidos na cidade, entre em contato com o Batalhão Ambiental da Polícia Militar, que atende pelo telefone (92) 98842-1553.

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