Por: Antonio Mata.
Mergulhava no negro de fumo. Sem assombros, receios ou dúvidas. Já o fizera incontáveis vezes, sem nenhum outro episódio mais apreciável. Até que o tempo de mudanças chegou. Com ele, uma restrição se manifestava.
— Alto lá, não dê mais um passo! Esta passagem agora está guardada pelos senhores da razão e da escuridão. Ninguém entra, ninguém sai. Quem insistir será posto a correntes como um cão!
A caravana se detém e ocorre uma certa perturbação.
— O que está acontecendo? Voluntários e socorristas sendo detidos, como pode? Senhores da razão, como é isso, desde quando? Que razão é essa?
— Isso não faz nenhum sentido. Aqui sempre foi passagem, alguma coisa aconteceu.
— Tenham calma, tudo tem uma explicação.
— Nenhum trabalhador está podendo cruzar esta faixa.
— Mais uma vez, ainda não é isso. Aos novos socorristas e os aprendizes, é melhor que retornem à colônia.
— Podem impedir nosso próprio acesso?
— Sim, podem e estão fazendo isto. É lamentável, porém simples de entender. O processo civilizatório acabou. Tudo o que existe é a Transição Espiritual do planeta. Contudo, estamos diante de uma humanidade que não sabe nada disso e que não se preparou para vivenciar tais processos. Assim, toda dúvida, medo, ódio e desespero expressos na Terra robusteciam as sombras. Eles sabem disso e agora acreditam que suas convicções estavam corretas. Portanto, entendem que tinham razão. A humanidade lhes deu razão. — Parou um instante.
— Assim, vamos ter um decréscimo de socorristas a serviço junto à crosta. Porém, será temporário. Nem todos estão sujeitos ao bloqueio.
Logo a seguir, três socorristas se puseram a caminho. Se aproximando do posto de vigilância e controle.
Os monstrengos da guarda vêm o trio se aproximar. Um deles emite mais luz que os demais.
— Devemos prender essa trinca?
— Com uma filha de Maria no meio? Quem vai responder por isso, você idiota? Os senhores da razão foram claros. As filhas de Maria podem passar, conduzindo dois auxiliares e isso é tudo. Não se meta com elas.
Em meio ao negrume reinante, o trio socorrista cruza os limites do posto de vigilância e desce à crosta terrestre. Lá, muito o que fazer. Sustentar o bom ânimo das equipes de trabalho no plano físico e auxiliar um número infindável de necessitados na Terra.
Em silêncio, sem alarde nem anunciações desnecessárias, Joana avançava por sobre as plagas terrestres, oferecendo sua dedicação e amor, na companhia de duas auxiliares. Depois retornava. Mais um dia, mais uma missão cumprida.