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terra de espíritos

histórias, crônicas e contos

Luzes

Por: Antonio Mata

Não era de agora que o sonho se repetia. Quando não, era como que reconfigurado. Mudavam-se os cenários, os personagens, menos um. Para em seguida apresentar a mesma conclusão. Nem era a única mulher.

Antes do fim da madrugada já estava com a história na cabeça. Não havia grande dificuldade em interpretar o sonho daquela madrugada. A necessidade de sempre amparar e segurar aquela mãozinha pequena de bebê.

De repente ele se projetava ao chão, sendo necessário segurar a outra mão também. Manter em segurança, amparado. Mas, por que razão insistir tanto com algo tão óbvio?

Às vezes o chão aparecia na terra desnudada. Às vezes em um gramado, outras vezes dentro de casa. Sobre o assoalho ou tapete. Porém, sempre a mesma atenção em não permitir que caísse ou se machucasse. Os ambientes, as luzes, a caminhada do pequeno recém-chegado.

Perdeu a conta de quantas vezes sonhou assim.

O tempo passou. As coisas mudaram, inclusive ela mesma. A barriga de três meses cresceu, até trazer seu rebento. Lá fora já fazia frio e era escuro. Tudo havia mudado.

Os apelos para não tirar as vistas de cima do pequenino, estes continuaram. Os lugares, ambientes e luzes, vez por outra, vinham na lembrança.

Estava mais uma vez junto do Huguinho, que se mexia de um lado para o outro, enquanto dormia. As lembranças, o quarto, a noite, as luzes se movendo. Como se acendendo para depois apagar.

Entre uma cena e outra, olhou para o teto e a luz circulou como uma lanterna, para depois apagar. Os olhos já querendo se fechar de vez. Huguinho se vira e fica de peito para cima. Ela abre os olhos e torna a ver o quarto iluminado. A luz clara e suave estava lá. Achou bonito, sem saber se sonhava ou não.

Virou-se de lado, com o braço estendido na direção do bebê. Ele, então, virou de costas e a luz no teto sumiu. Agora, iluminado só o canto da parede.

Acomodou-se junto àquela lanterninha e voltou a dormir.

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