Por: Antonio Mata
Bem que pensou em se antecipar. Já sabia da dificuldade e não queria perder tempo. Só não de muito certo. Assim, olhava de um lado para o outro no início da manhã.
Com a rua ainda deserta, saltou no depósito e iniciou sua busca. Não seria grande coisa, mas com um pouco de paciência em procurar e alguma sorte, daria certo.
A caixa trazia coisas ainda na embalagem, o que foi ótimo. Lá mesmo separou fatias de bolos, alguns salgados e mesmo sobras de chester, peru. Tudo quase intacto. Saiu melhor que o esperado.
Juntou tudo e esgueirando-se rapidamente se afastou do lugar. Precisaria ainda de uns 40 minutos de caminhada até em casa, mas estava satisfeito. Havia aproveitado uma das embalagens descartáveis. Ficou tudo perfeito, nem havia necessidade de esclarecer muita coisa.
Diria à sua mãe que havia recebido de outra pessoa. Uma senhora na espera de alguém que aproveitasse as sobras da ceia na noite anterior. Como tudo estivesse embalado, sua mãe não se incomodaria nem um pouco.
O resultado daquela surtida rápida ao depósito de lixo, naquela rua, veio a calhar, deu certo. Ainda era cedo, dava tempo de angariar alguns trocados e comprar um ou dois refrigerantes. Estava finalmente satisfeito.
Chegou em casa. No quarto de aluguel, onde imperava a fome e a desilusão, uma mulher e uma criança em tenra idade, receberam surpresos a oferta daquela manhã. Foi uma ceia de restos, atrasada e regada a água e refrigerantes.
É inegável que precisavam de ajuda. Muito se fez para coibir tais cenários. Bolsa isso, bolsa aquilo, auxílios variados. Entretanto, muitos prosseguem em condições miseráveis. Muita gente que recebia e recebe estes auxílios parou de procurar trabalho. Aceitou-se a condição de tutelados.
Experiências de auxílio na Europa já mostravam o resultado. Recebia-se algum dinheiro, mas também muita ociosidade. Foi quando o tiro saiu pela culatra.