Por: Antonio Mata
A movimentação no porto expressava o retorno. Precipitado, para alguns, que ainda acreditavam no sucesso, ali naquelas terras. Necessário, para outros.
O desalento estava estampado nos rostos. Um certo lamento por ter de partir. Operosos e dedicados, não viam a empreitada de tantos homens e de tantos esforços como um fracasso.
Contraditório nas mentes, tanto quanto na vida. Afinal, o invasor sempre chega com o propósito de vencer. Não obstante, um punhado de mentes aprendera a enxergar toda a empreitada de uma forma diferente.
Mas, fazer isto com uma invasão e a força dos canhões? Onde se fez possível semear com pólvora?
Últimas providências tomadas. A comitiva, enfim embarcou. A esquadra se afastava lentamente ao sabor dos ventos. Enquanto os demais buscavam se acomodar nos espaços exíguos da nau, o homem taciturno, dirigiu-se à proa da embarcação.
Prestava atenção à faixa de terra que se assombreava até enegrecer, cada vez mais distante. Foi sumindo até se confundir com o mar oceano, adentrando os domínios do seu próprio passado. Absorto em seus pensamentos, contrito, balbuciava consigo mesmo:
— Quis trazer até aqui a civilização, meu Deus. Trazer a Europa para esta terra de selvagens. Trazer o conhecimento, a arte e criar uma nova sociedade. Que ilusão.
As espumas nas pequenas vagas ao redor, sopravam incólumes à passagem da nau, de retorno às terras baixas de onde viera.
— Isso, não posso negar. Eu gostava desse lugar repleto de matas e de índios. Desse aglomerado de gentes que fizemos aqui. Agora, por auspicioso que fosse, acabou. Quando era mais importante persistir.
Das contradições tão comuns da mente humana e suas ações, muitas vezes nefastas, surgem lampejos de grandeza d'alma e algum censo humanitário.
Isto para logo em seguida se permitir que o negrume que insiste em conduzir seus dias, se aproxime e o envolva mais uma vez, deixando tudo no arquivo morto, esquecido e inútil das boas intenções. Tudo nunca passava de um jogo de interesses. Tudo pago com muito açúcar.
A Nova Holanda não estava saindo como se esperava. A reação lusitana se mostrou maior. O custo para detê-los também. Levou mais uns dez anos, até finalmente a empreitada se perder.
Os conflitos políticos, religiosos e econômicos que provocaram a vinda dos holandeses, acabaram levando-os de volta. Tornaram-se invasores mediante acordos. Abandonaram tudo e retornaram, ante a mudança dos acordos. Maurício e sua empreitada distante, já não eram mais tão necessários.
Em 20 de dezembro de 1679, na Alemanha, Maurício deixava a vida no plano físico. Depois da fase de perturbação, tão recorrente entre os homens, tomou ciência dos planos do Cristo para as terras do Brasil. Onde buscara seu intento de construir uma nova sociedade. Porém, muito longe dos anseios celestes.
Ainda que o resultado atual não indique melhores e mais consistentes avanços no interesse do Mestre. De todo modo, o nordeste brasileiro, sob tutela da Companhia da Índias Ocidentais, não era para ser. Pois a companhia se expandiria encampando mais terras e seguindo para o interior.
Isto, significaria o prelúdio para a fragmentação do território da colônia, sem que Portugal tivesse forças para reagir a tal intento. Um dos tesouros, reservados ao amparo dos povos, se perderia e sem razão de ser.
Entretanto, sensibilizou-se com o grande projeto que o futuro traria. Os processos finais visando a implantação de um Novo Mundo. Maurício deixou de lado todos os seus interesses relativos à velha Europa e retornou ao Brasil, onde deu continuidade a seu processo reencarnatório.
Estando de volta às paragens espirituais, passou a integrar as falanges de brasileiros que, de algum modo, contribuem para o avanço da nação, rumo ao Coração do Mundo. Agora, poucos anos nos separam dos soberanos propósitos definidos por Jesus.