Por: Antonio Mata.
Logo cessou a cantoria dos pássaros que coabitam nos quintais. Bem depois, o movimento matinal das ruas engarrafadas. Então, chegava novamente o silêncio nas ruas de sol. Portões e portas fechadas, de cachorro sem latir. Notável como algo muda tanto em tão pouco tempo.
Percorria toda a extensão da rua, todo o quarteirão sem avistar quase ninguém. Só mais adiante, um vendedor de quebra queixo devia ter se enganado com a hora de sair para vender.
Na noite anterior havia chovido bastante. A ponto de o Serviço de Defesa Civil divulgar mensagem de alerta nas redes sociais. Por conta das enchentes e alagamentos em áreas de alto risco. Assim, aquele dia de sol secando tudo, era mais que bem-vindo para muita gente.
Retornava do serviço no pernoite. Subiu adiante o lance de escadas, procurando no bolso as chaves do apartamento. Entrou, deixando os sapatos junto à entrada. O lugar estivera fechado até aquela hora. Ainda guardava o frescor da noite.
Mas, não foi isso que chamou sua atenção. O que o prendia era aquele cheiro. Um cheiro muito suave, doce. Parecia estar em todo o apartamento. O cheiro o acompanhava enquanto deixava algumas coisas na cozinha.
Voltou à sala e aquele cheiro que não sabia de onde vinha, tinha cheiro de memória, de lembrança. Como se quisessem lembrá-lo dos pés na areia, de vento no rosto, de gaivota passando, de onda quebrando. Aquilo era cheiro de mar.
Parou por um instante e se deu conta que já havia se passado quase uma década. Os mais novos já tinham crescido, os demais, envelhecido. Por onde andarão todos? O cheiro de mar continuava. Sentiu vontade de voltar.