Menu

terra de espíritos

histórias, crônicas e contos

Meu nome não é Deise nem André

                                                                                 

                                                                                                                               Foto: cor weggelaar por Pixabay

Por: Antonio Mata

Saltando por entre os arbustos, trepando nas árvores, com os troncos e galhos servindo de pontes entre um canto e outro do caminho. Agilidade, golpe de vista e velocidade, os pequenos guaxinins se adaptaram excepcionalmente bem naquele ambiente multifacetado, repleto de coisas para se ver e fazer, e de muitos perigos.

— Anda Betsy, não está escutando? Aquela gente que traz comida já chegou. Anda logo que aqui também está cheio de macacos, e vão querer chegar na nossa frente. Vê se não fica de moleza e vem logo que eu já estou com fome.

— Espera aí, espera aí, Bobby. Só sabe estar correndo! Tem que saber primeiro quem foi que chegou. Se for aquele pessoal que só sabe fazer gravação, estou fora. Não dão nada pra ninguém. Se não tiver amendoim e pipoca, eu não saio do mato de jeito nenhum. É gente miserável, isso sim.

Embrenhados nas matas do pântano, a adaptação àqueles ambientes encharcados era mais que uma necessidade. A atenção era permanente, de dia e de noite. Por todo momento a audição tinha que ser aguçada. À noite, o sono precisava ser leve.

Por segurança gostavam de viver em grupos. Naquele momento, estavam em dupla, atentos às vozes que surgiam, e que poderiam significar alguma coisa nova, principalmente se fosse para comer.

                                                          

                                                                                                                                       Vídeo: youtube.com

— Está ouvindo Betsy? Já estão lhe chamando, é você mesma! Anda logo, estão bem ali, e devem ter trazido amendoins.

— Eu, euzinha? Eu não me chamo Ice, aqui não tem nenhuma Ice, e nem Deise. Já não estou vendo o amendoim.

— Deixa de ser olhuda e presta atenção. Vão ficar apontando aquelas placas de novo, mas é só isso Betsy. Depois é só comer e ir embora. Escuta só, estão dizendo alguma coisa.

— Já ouvi, já disseram meu nome errado e agora ficam chamando Alenquer, Alenquer. Esse daí está perdido, aqui não é Alenquer. Aqui é Louisiana, e estamos no pântano.

— Olhe Betsy, aí na frente, eles querem gravar a gente primeiro.

— Gritando desse jeito, saiu de um hospício foi? Sai da minha frente Bobby que vou embora! Estão me achando com cara de macaco!

— Estão chamando de novo Betsy. Não estou entendendo nada.

— Estão chamando um tal de André, que eu nem sei quem é. Não quero ficar aqui não. Meu nome não é Deise nem André. Cadê o amendoim? Não tem, fomos enganados Bobby.

— É mesmo Betsy, fomos enganados de novo, vamos embora. Quem sabe outro dia. Com estes malucos não vamos conseguir nada. Que horror, nem no pântano agente tem sossego.

E foi assim que pelas bênçãos dos intrujões dos homens, nem Bobby e Betsy puderam comer amendoins, e nem o Alligator pôde comer um guaxinim. Pobres animais...

Encontros repentinos entre espécies diferentes, visões distintas, entendimentos diferentes, às vezes fácil, às vezes difícil. Sendo  assim..., avisa o André que desta vez vai ficar para a próxima.

 

Go Back



Comment

Blog Search

Comments