Foto: Lady Escabias - Pexels
Por: Antonio Mata
Dirigia pelas ruas bem cedo para aproveitar o melhor fluxo de passageiros. Motorista de aplicativo, relembrava os tempos quando a vida era bem mais fácil.
Esse tempo passou; o desemprego massivo empurrou muita gente para os carros de aplicativo. A corrida barateou, mas a concorrência aumentou excessivamente.
Seguia tranquilo, conversando com os passageiros que assim o permitissem. Amenidades, lembranças do interior e de outros tempos. Alguma coisa de política; conversa meio sem futuro pela grande quantidade de distorções e mentiras deslavadas. Voltavam para as recordações.
Por quê?
Porque aconteceu diante dos olhos, é viva e muitas vezes; lembranças muito bem-vindas. Volta para casa tarde, conferir a féria. O que ficou no bolso; o que ficou no crédito.
Aquelas profissões que exigem o convívio com pessoas as mais diversas, e o embate psíquico daí resultante podem conduzir o indivíduo a uma condição de esgotamento mental e físico; não precisa ser um trabalhador braçal.
João adentrou a casa modesta de dois quartos, sendo recebido por Rosana, a filha de 9 anos que queria lhe mostrar o boletim da escola e o ótimo desempenho do bimestre.
A mão estendida em sinal para se afastar e deixar para depois, constrangeu Rosana, que só queria mostrar sua alegria porque que tinha feito tudo certo.
Mais adiante encontra o pequeno Gabriel, com o seu celular feito com cartolina, cola, tesoura e lápis de cor; mas que era igualzinho aos de verdade. Trazia a felicidade, no céu dos seus seis anos.
— Ô Gabriel, vai mostrar isso pra sua mãe, não tô com paciência para isso agora...
— É só pra ver se ficou bonito. Dizia o inventor da casa estendendo a mãozinha com seu projeto concluído.
— Depois Gabriel, só depois.
Ingrid, que observava a cena, intervém.
— João, ele só quer te mostrar o brinquedo que ele fez.
— Ingrid você também, é complô agora?
— Complô por que João? As crianças querem a sua atenção! O que foi que deu em você?
— Nada disso me interessa, vê se não enche o saco!
Entra no banheiro batendo a porta. Se ajeita no vaso sanitário como se fosse um banco de praça, e apoia a cabeça com as mãos.
João não sabe, mas o passo seguinte, ao seguir para o banho é o momento de se receber a limpeza não só do corpo, mas da alma. A água é elemento de assepsia por excelência, na chuva, nos mares, nos rios e lagos. E até nas torneiras e chuveiros.
Abre o chuveiro, deixa a água cair sobre a cabeça e o corpo, instintivamente na esperança de “lavar a alma”. E lava, abranda, ameniza as dores e desgostos da Terra.
Mineral sutil, a água pode muito. João desconhece tal capacidade, e sabe menos ainda que submetida à ação energizante da oração, mobiliza a presença de criaturas bem-fazejas, tão filhos de Deus quanto ele próprio. Conhecidos por uns como Anjos do Senhor; por outros como Espíritos Superiores.
Reforçados pela fé dos homens o mineral sutil é energizado pelos anjos, espíritos que o preparam adequadamente para o propósito buscado. Agora a água pode curar.
O que João, desprovido de valores espirituais que possam ampará-lo, não sabe, é que o simples exercício da paciência para com a mulher e os filhos; teria sido elemento de equilíbrio.
O Divino Criador, no silêncio que lhe é peculiar, deixa pronto os elementos do abrandamento, da pacificação e da tranquilidade para a alma. Deus cria seus filhos para a autonomia; mas é preciso conhecer suas Leis e sua linguagem. Daí as palavras de seu mensageiro:
“Vinde a mim, vós que estais cansados e fatigados, e eu vos aliviarei... Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”.
Mateus, 11: 28-30.