Por: Antonio Mata
Não pensou duas vezes nem deu grande atenção. Coisas que todo mundo faz, daquelas que todo mundo tem. Acabam adentrando o hall da normalidade. Vira coisa comum.
Veneno vira coisa comum, compulsões, desacertos e sustos. Só coisa comum. Assim nem se fala mais, prefere nem dizer. Não precisa, melhor esconder, disfarçar. Tão comum que ficou.
Mas, a navalha estava aberta, virada para cima, dentro da bolsa.
Do bolso, do quarto, da casa. Cobra criada, oculta no silêncio. Quando se vê, já é no descuido. A serpente é coral, serpente azul, amarela, multicolorida. Brilhante e vistosa.
Pequenas, agressivas e mortais. Grandes, dentes à mostra, em fileiras, virados para trás. Peçonha que se agarra nas mãos, dependurada. Que não larga, que de boba não tem nada. Deixa indolor, soprando mais que morcego.
Passa por adorno. Aí querem mais um, mais dois. Quem não tem passa a querer. Na bolsa é bom, no bolso é bom.
Só depois, de dedos enegrecidos, apodrecidos, viciados. Sufocamento, palpitação do coração que a navalha já cortou. Arrancou, mutilou e retalhou. Vai necrosar tudo, só que aos poucos. Em 12 parcelas iguais.