Por: Antonio Mata.
Não é para todos, nem deveria ser. Nem tudo é sabido. Para aqueles que desciam a rua em passo acelerado, muito menos. O sol já se punha, a noite quente estava prestes a começar.
Só história de gente capaz, mas, que nos caminhos da vida, se perdeu e nem viu. Buscando acompanhar os passos dos outros dois, perguntava o que era aquilo.
— Vamos para onde? Por que caminham desse jeito? Por que tanta pressa? Aconteceu alguma coisa que eu não sei?
— Pare de perguntar e continue andando, aperte o passo.
— Ora, para quê pressa?
— Continue andando, agora só isso é o que importa.
Ruas movimentadas no meio do início de noite. Olhava para os lados e tudo parecia cheio de gente. Não tinha prestado atenção antes. Esse é o problema de juntarem tantos edifícios, pensava.
Via e pensava em coisas que deveriam ser comuns. Mas pelo visto, não naquele dia. Por um instante achou óbvio, até prestar mais atenção nos olhares. Uma parte o ignorava, a outra o acompanhava com o olhar. Como se fossem diferentes do resto.
Alguns mal esticavam o pescoço para em seguida abaixar a cabeça. Talvez entendessem que não era da sua conta. Andar em meio a multidão com dois caras enormes, um de cada lado, não era nada comum.
Achava aquela gente esquisita demais. Aquela gente o achava esquisito demais. Brotava de sua mente ideias sem sentido, enquanto buscava se situar e lembrar como havia começado aquela correria mal disfarçada. Lembrava de sair e estar indo para casa. Sentia dor no estômago quando saiu e isso era tudo.
— Estou sendo preso? Posso saber qual é a acusação? Saibam que tenho meus direitos. Também tenho um advogado. Só preciso falar com ele. Quando poderei fazer isso?
— Você não está sendo preso e duvido que alguém ligue para seus direitos ou para seu advogado. Só vamos retirá-lo daqui e o resto passa a ser contigo.
Próximo a enorme quarteirão, outros dois se juntaram ao trio. Foi posto no meio dos quatro e agora todos se apressavam em ultrapassar o quarteirão. Do outro lado da rua, descendo por uma rampa estreita, em pouca iluminação, enxergou algo que, por instantes, prendeu sua atenção.
Um sujeito de chapéu e roupas escuras, além de uma capa esvoaçante, descia por ali. Por estranho que fosse, pior foi o que o seguia. Uns bichos, umas coisas com asas. Um tipo de morcego ou qualquer coisa que o valha.
A bicharada não levantava voo e sumia dali não. Acompanhavam aquele sujeito como se fossem uma extensão de sua capa. Batendo asas, mas sem se afastar do chão. Estava ficando tudo confuso demais. Sentiu denso nervosismo no ar.
Perguntou daqueles quatro, sem obter resposta. Um deles voltou-se para trás. Instintivamente, fez o mesmo. O que pôde ver estava misturado à multidão. Todos com aquele chapéu preto. Avançavam na sua direção.
Em meio à turba, alguns olhavam para trás e após avistarem o grupo sinistro, depois agiam como se aquilo não fosse com eles.
O quarteto se aproximou mais ainda, segurando-o pelo braço.
— Corre, corre agora, tem que chegar até a próxima esquina!
Correram na direção da esquina. O homem, perdido, gritava.
— Eu sou apenas um homem de pesquisa, de ciência. O que foi que eu fiz? Trabalho para as pessoas!
Olhou de repente para o alto, o suficiente para delinear o fio prateado acima de sua própria cabeça. Enquanto isso, na correria dobraram a esquina.
— Agora vai, vai logo, volta pra casa! Volte para o seu corpo, homem de ciência e trate de tomar cuidado. Não é o único interessado no seu trabalho! Tenha mais cuidado, vamos estar por perto. Agora vá embora!
Tomado de suor que encharcou a cama toda, como se tivesse urinado durante a madrugada, acordou repentinamente. Sonho, pesadelo, ilusão, realidade. Confusão, aflição, perseguição e medo, muito medo.
— Que diabos andei fazendo meu Deus? — Perguntava, sem obter resposta. Só o silêncio da noite, com um poste, uma luminária acessa próxima à janela do quarto. Sentado na cama, pôs a cabeça entre as mãos.
— Nem eu sei. Trabalho para quem? Nem eu sei...