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Por: Antonio Mata
Santa Catarina, julho de 1983. O vale do rio Itajaí recebe uma quantidade excepcional de chuvas provocando enchentes em 135 cidades, sendo decretado o estado de calamidade pública. São dezenas de mortos e quase 200 mil desabrigados.
As diversas mídias mostraram desde então, o flagelo das enchentes que periodicamente assolavam e assolam o país.
No dia 11 de janeiro de 2011, chuvas torrenciais atingem o municípios serranos de Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis, derramando em três horas as chuvas do mês inteiro, e matando quase mil pessoas. Em fevereiro deste ano, a tragédia se repete.
Em que pese as sabidas dificuldades e ausências de ordem governamental, o que sempre despontava em tais cenários de dor, era a solidariedade entre as populações, o amor das coletividades ante o sofrimento que lhes era comum. Fossem aqueles diretamente atingidos, fossem aqueles outros das localidades próximas.
Sustenta-se uma verdadeira contradição. É sentimento latente diante do flagelo e da destruição que se instala, porém se faz distante, esquecido, quase ausente dos episódios diários.
Estes de todos os dias, não exigem sacrifícios extremos. Bastam as pequenas doses de fraternidade que seriam suficientes para aliviar males, aparentemente de impacto menor na mente das pessoas, como a fome, por exemplo, porém extensa em seus danos e no número de necessitados.
Isto se aguça, pois quem come, come todo dia, exigindo atenção permanente. A coletividade sofre de amnésia quando o mal se esconde em fatos menores, mas onde é permanente. É outra contradição. É quando surgem pequenos grupos de voluntários que buscam alcançar aqueles ainda invisíveis às autoridades. Quando a tragédia passa, o amor das coletividades também passa.
Terminada a crise, a coletividade parece preferir a sua condição de hipnose coletiva, onde cada um aceita o seu automatismo das rotinas diárias. O cotidiano hipnotiza, afasta e aflige. Tal qual o doente, que se sabe doente, mas que aceita, como quem prefere assim.
As tragédias que eventualmente afligem os homens são verdadeiros motores despertando a solidariedade, às vezes tão adormecida e distante. Isto pode ser entendido como uma regra? Seria então somente isto que estaríamos dispostos a fazer?
No verão de 1993, cerca de 4 mil pessoas se reuniram em Washington D.C., para meditar em favor da paz e contra a violência na cidade. A experiência, que contou com o apoio da polícia local, foi capaz de reduzir em 25% os índices de violência. O amor da coletividade em ação, quando o somatório das partes é maior que o todo. Na ocasião a estimativa populacional de Washington D.C. era de 604 mil habitantes.
O antídoto contra a acomodação e a hipnose que destroem a fraternidade, já foi apresentado de longa data, sendo por demais conhecido. Contudo, permanece carente do exercício de fixação, como crianças que não fazem o dever de casa, não querem.
Orai e vigiai, este é o antídoto. Necessidade de todos os dias, convite ao autoconhecimento, capaz de espantar tendências nocivas por demais enraizadas no próprio ser, trazendo de volta o amor próprio e o amor das coletividades.
A recomendação do Cristo é instrumento de sintonia com a luz de Deus, capaz de guiar os homens para muito além dos grandes dramas coletivos, que continuarão a vir, até que se possa compreender que a libertação está, e sempre esteve com Jesus, e não à revelia Dele.