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terra de espíritos

histórias, crônicas e contos

O grande hospital

Por: Antonio Mata

Lá pelas seis a neblina cobrias a ruas. O ligeiro frio da noite ainda estava presente. A movimentação se iniciava para mais um dia. Fora isso, havia uma natureza diferente naquele povo.

Mesmo que imerso em suas incertezas e angústias, surgiam contradições. Seu jeito e singularidade. Na Europa, igrejas estavam sendo abandonadas, fechadas, queimadas ou vendidas para serem transformadas em outra coisa. No Brasil fazem igreja até, no fundo da garagem.

O Brasil é o hospital do Cristo, anunciava Haroldo Dutra em uma palestra. A notícia foi recebida efusivamente pela plateia.  Afinal, onde mais poderia ser melhor? Escolha do Mestre. Só que houve uma certa confusão. Como se tal coisa trouxesse, por si só, a certeza de um caminho mais fácil, mais tranquilo.

Faltava aliar ao resto do cenário, o fator humano. Quem ouvia na plateia, em algum momento, deve ter pensado a respeito. Afeitos a tratamentos espirituais, a fala do palestrante era coerente. Mas, ainda assim, afinal, o que é um país hospital?

A coerência há de ajudar mais uma vez. Como é atualmente e como tem sido a história de um hospital público brasileiro na sua missão de atender a população do seu entorno, do seu lugar? Portanto, como é a rede hospitalar do Brasil?

São incontáveis as notícias, denúncias e depoimentos dando conta das filas intermináveis, da falta de leitos, falta ou falsificação de medicamentos, desvios de recursos públicos e fraudes sucessivas.

Desrespeito, descaso, ausências e justificativas que beiram o cinismo. Por conta de outro cenário, Divaldo Franco diria: o brasileiro não quer assumir responsabilidades. Tudo isso mostrava o fator humano em ação.

Tanto quanto o atendimento às questões de saúde é tratado de forma precária, as questões ligadas aos anseios do Cristo não se dão de forma diferente. O mesmo pouco interesse, incompreensão e motivação se fazem presentes.

Pois bem, entende-se que o bom funcionamento de um hospital público depende de um conjunto de autoridades e servidores públicos, responsáveis por seu funcionamento.

Do mesmo modo, os homens seguem sem compreender que o bom funcionamento do hospital do Cristo, na sua missão coletiva que é socorrer a todos, depende da boa vontade e determinação daqueles que foram enviados para compor a população do país.

O que mais justificaria uma garagem transformada em igreja, senão a fome de Deus? Não é só quem a fez. Mas, quem busca por ela. Pois a garagem, enchia de gente.

É decisão e participação individual. É o reconhecimento do próximo. Sem tais princípios seremos sempre um amontoado de doentes internados em um manicômio. Como em Juqueri ou Barbacena de tristes lembranças.

O Mestre nos deu o seu melhor. Todo o resto depende da decisão e participação do próprio povo brasileiro. Sob pena de que o grande hospital se perca.

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