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histórias, crônicas e contos

O primeiro zelador

                                                                            

                                                                                                                             Foto: Piia Ylisalmi por Getty Images.

Por: Antonio Mata

Era cedo, e na rua Delfim Moreira, Alzira moradora antiga do lugar, se preparava para ir oferecer sua participação voluntária na construção de um prédio não muito grande.

Prédio que com o tempo e muito trabalho, abrigaria as ações de uma casa beneficente na periferia da cidade.

Fincado no bolsão de miséria, algo tão comum para muitas populações do país o propósito se destinava a amparar famílias em condição de risco social, sob a égide da caridade cristã.

Já adentrando a terceira idade, porém, isto não a impedia de se fazer presente no local, e a caminhada de 600 metros era vencida sem maiores dificuldades.

Alzira era responsável pelo café da manhã e almoço do grupo de trabalhadores, pedreiros e serventes contratados para o serviço de construção, que já seguia avançado.

O propósito era chegar logo para abrir o portão de acesso e a ponto de deixar o café preparado para a chegada da equipe de trabalho.

Ao chegar no local da obra, adentrou o lugar, deixou seus apetrechos para o café sobre a mesa, em uma cozinha improvisada no canto de um salão em obras.

Ao percorrer os cômodos semiacabados do prédio, deparou com vários deles servindo de sanitário para os cães de rua. Isto, pois o fundo do terreno não era murado.

Era protegido por uma simples cerca de arame, a qual não oferecia proteção contra o trânsito dos animais, que adentravam a construção provavelmente para dormir.

Quando Alzira  chegava, todos já haviam se retirado. Ficava agora a necessidade de limpar tudo de novo, pois sabia que tão cedo não colocariam muro no fundo, e que a colocação das portas dependia ainda de doações para a aquisição.

Concluiu o serviço de limpeza, e já havia preparado o café quando os trabalhadores do lugar chegaram. Alzira então percebeu que havia um dos cães que não se afastava do lugar acompanhando com os demais.

Permanecia à meia distância observando tudo o que ela fazia no local, junto à cozinha improvisada. Era um típico vira-lata. Focinho fino, preto e branco de pelagem curta, de porte mediano para pequeno.

Havia aprendido que se ficasse no local poderia aproveitar as sobras que os trabalhadores lhes davam. Para um cachorro de rua, isto era muito importante. Melhor do que perambular nas ruas com os demais companheiros de fome.

Com o avançar dos dias, percebeu que os demais cães de rua já não entravam mais no prédio em obras. Que por vez, continuava guarnecido pelo pequeno vira-lata.

Então num certo dia, chegou para o serviço da manhã, já pensando que os cães de rua poderiam a qualquer momento voltar. Atacar e expulsar o seu pequeno vigilante voluntário, além sujar tudo de novo.

Junto à cerca, lá estavam os demais cães desejosos de invadir o local à cata de comida. Sentado nos fundos da construção, e de frente para os invasores, estava o vigilante e atento voluntário, que ainda não tinha sequer um nome.

Aproximou-se mais do local e pôde ver, sentado pouco adiante, um robusto e belo Rottweiler. Entendeu logo a situação; agradeceu a presença do amigo corpulento, e foi cuidar dos afazeres da manhã.

A seguir chamou o seu destemido vira-latas, lhe ofereceu a refeição da manhã,  e em seguida o “batizou” com o nome de Balder, islandês; que significa “guerreiro valente”.

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