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terra de espíritos

histórias, crônicas e contos

O velho pescador

                                                  

                                                                                                                                         Imagem: Wikimedia Commons - Rodrigo Fernandes

Por: Antonio Mata

Buscava uma beira de rio ou lago. Precisava pousar e descansar da curta, porém importante migração na localização de áreas melhores em meio à floresta.

Velho e cansado, ariramba de muitas luas, de muitas idas e vindas, queria se estabelecer. Achar águas piscosas, onde pudesse desfrutar daquilo que melhor sabia fazer. A arte de pescar, sem pressa nem o alarde e as precipitações de outros tempos. Um lugar para tocar a vida, um dia de cada vez.

Encontrou um lago de margens cobertas de vegetação, onde encontrou ainda, incontáveis galhos. Entre eles, aqueles bem baixos, quase no nível da água.

Então desceu, fez o habitual reconhecimento do lugar, estando satisfeito com a escolha, acomodou-se, escolhendo os pontos mais baixos e os mais altos em meio aos arbustos.

Ainda cansado e, portanto, necessitando se alimentar, retomou os galhos mais baixos e escolheu um, lá permanecendo absolutamente imóvel. Silencioso, aguardava. Os pequenos peixes logo surgiram, circulando pelas proximidades. Esperava pelo melhor momento.

A menos de dez metros dali um jovem Martim-pescador. Ariramba feliz da vida, esbanjava sua vitalidade saltando de um galho para outro. Observava o movimento dos peixes. Poder-se-ia dizer que escolhia sua melhor posição, ou lugar mais adequado.

O problema era os peixes ali embaixo, sempre mudando de posição. Como pretendia capturar peixes daquele jeito? Só servia para fazer barulho e afugentar os peixes.

— Ei, pare com isso! Está espantando os peixes! Assim eles irão embora. — Ao que o jovem Martim respondeu.

— Muito pelo contrário. Quero que eles se assustem, e assustados comecem a correr para todos os lados. É quando entro em ação. Vou lhe mostrar, nunca falha.

Colocou-se a saltar de um lado para o outro, com os pés afundando os finos galhos nas águas do lago. Os peixes começaram a se deslocar, como se estivessem sendo conduzidos, tangidos, feito gado. Depois de um certo tempo, mergulhou e voltou à tona com um peixinho de uns quatro centímetros no bico.

Repetiu, pouco depois, a operação, dessa vez capturando um incauto, bem à superfície do lago, de uns cinco ou seis centímetros. Satisfeito com o resultado e convencido de suas habilidades de pescador, olhava para o velho Martim.

Como o velho Ariramba, não esboçasse nenhuma reação. Voltou a saltitar por entre os galhos, sabedor do que estava fazendo, sem dar maior atenção ao velho.

O velho então, afastou-se do jovem Martim agitado e se acomodou mais uma vez. Fiel ao seu estilo de pescar. Até que, de repente sua concentração foi recompensada com um peixe de uns oito centímetros.

Este foi rapidamente capturado, retirado da água e o velho Martim, batia o peixe contra o galho com força, até matá-lo. Quando então virou-o de ponta cabeça e o engoliu por inteiro.

O dia percorria todas as suas horas. Lá pelo final da tarde, o velho já havia capturado mais dois peixes. Um de seis e outro de uns quinze centímetros. Este último, avistado à meia distância, exigiu do velho, um sobrevoo certeiro, que lhe permitiu mergulhar a pegá-lo ao tentar fugir para o fundo do lago.

Por hora, o estômago do velho já estava bem cheio. Com o sol já se pondo, tratou de regressar aos galhos mais altos, onde poderia dormir mais sossegado. Ariramba ganhou mais um dia.

O jovem Martim, vendo tudo aquilo, resolveu saltar, voar, subir, descer cada vez mais, prestando atenção nos peixes lá embaixo. Ao final do dia, o jovem Martim-pescador, com toda a sua energia e todos os seus saltos, só conseguiu capturar mais dois peixinhos, de uns três centímetros cada um.

Desapontado consigo mesmo, subiu para o seu galho mais alto, incomodado por pegar poucos peixes e ainda estar sentindo fome. Na manhã seguinte, bem cedo, como ainda estivesse com fome, desceu ao lago e acomodou-se. Silenciosamente e imóvel, foi aguardar um belo peixe passar.

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