Por: Antonio Mata
A massaroca de gente, os gritos e grunhidos não deixavam entender coisa alguma. Aliás, muito menos se sabia como foi que aquilo começou. Ninguém largava ninguém e nem havia nada ali.
A hora, não se ligava mais para a hora. Nem para o tempo. Uma hora era dia, uma hora era noite. Então, de repente, era noite de escuridão da hora que nunca mais passou. O fim da razão.
— Já chegou o pote de geleia? Tô com a barriga nas costas.
— Chegou o quê?
— O pote de geleia de ameixa.
— Não sei, não vi ninguém carregando pote nenhum.
— Acho que já ouvi isso. Só não vi coisa nenhuma. — Dizia outro ali, sentado no chão.
— Não tem ninguém trazendo geleia. Ninguém vai trazer.
— E agora, o que vou passar no pão? Cadê a geleia?
— Muito simples, come o pão sem geleia.
— Pera aí, pera aí. Um traria o pão, o outro a geleia e o outro o queijo. Foi assim que se combinou.
— Ah, então tem queijo?
— Sim, ele ficou de trazer o queijo.
— Ele ali, ficou de trazer o queijo.
— Esquece isso, gente. E você come seu pão sem geleia, sem nada.
— Que pão?
— Ué, esse que você ia passar geleia.
— Quem trouxe o pão? — Virou-se para os demais com cara de espanto.
— Quem trouxe o queijo? — Disse um deles.
— Quem trouxe a geleia? — Disse o outro.