Por: Antonio da Mata
Que situação. Chega uma hora que se tem as paredes por companhia. Até o ato de se ir ao banheiro, se torna cada vez mais difícil. Quando então se aproxima a impossibilidade. Tudo se dilui, vai se perdendo. A força; a memória; a mobilidade; a vontade.
Só fica então a dor. A esperança delineia a última fronteira. As outras, já passaram, já tiveram sua vez. É o anjo cinzento e sem alarde. Agora, ele já chegou.
Recostada no sofá, parecia satisfeita. Ela cantarolava uma certa canção. Sacudia a cabeça branca e os ombros ao sabor do ritmo. Às vezes, lembrança. Às vezes, só a vontade de fazer diferente. Conforto singelo, mas cheio de significado.
O caminho sem volta do quarto de hospital; da clínica; da casa de repouso, vai se definindo, persistente. Mesmo sob muita recusa. Mas não envolve só dinheiro. Precisa de mais.
Ainda assim, do frondoso leque de parentes e amigos, que de repente, não quer mais se abrir e não explica por quê. São relações antigas no tempo, mas onde algumas frutificaram.
Então surge, é assim. Surgem, aparecem, se apresentam. São os resistentes às paredes, às clínicas, à distância e indiferença.
Desse modo sutil, entre conflitos, dificuldades e impedimentos, levam adiante o amor, a caridade e a compaixão. Mesmo sem se dar conta, sem pensar muito, sem saber explicar tudo.
No tempo dos entendimentos nascentes, deixaram os livros para depois, pois só sabem fazer. Aprenderam fazendo ao sentirem que chegava a hora.
A Última Hora não escolhe momento e vem de diversos modos. Ela apenas se apresenta aos que querem. Aqueles que realmente a aceitam.
Obrigado Rubens, obrigado Hamilton, obrigado Carla.