Por: Antonio Mata
A curiosidade que fez avançar o ímpeto humano, rumo às descobertas da ciência, não era diferente daquela que lhe fez queimar os dedinhos. O susto e o grito logo depois, foi inevitável.
Fazia era tempo que Nazaré namorava com os olhos, aquele pedaço de ferro todo cinzento, todo esquisito, com um cabo de ferro também. Não se deu conta do que poderia acontecer.
Foi lá na casa dos Morais. Foi lá que a armadilha se deu. Já tinha visto sua avó colocar o bicho em cima da boca do fogão de lenha. Só que não estava lá. Estava na prateleira.
Do tempo em que se passava roupa na cozinha, devido ao fogão, junto do monte de lenha. Esta, por vez, era meio que ao ar livre, pois não tinha porta nem paredes. Ficava na parede do fundo das casas. Somente com o piso e uma cobertura. Só a comida pronta é que entrava na casa. A roupa passada também.
Poderia ter tocado com a mão toda. Como era pequena, em seus cinco anos, só conseguiu tocar com a ponta dos dedos. Sua avó utilizava um pano para manuseá-lo. Deve ter sido por isso tudo que resolveram colocar um cabo de madeira.
Depois tornou-se oco. Alguém teve a ideia de colocar o braseiro direto no ferro de passar. Não custou tanto assim, fizeram um que era elétrico. Aí, abandonaram o carvão.
Nas reminiscências de Nazaré estava marcada e passagem dos ferros de passar e engomar, da casa das patroas e depois de sua própria casa. Um ofício simples, mas que ainda hoje é requisitado.
Os tecidos agora é que não amassam. A clientela vai aos poucos desaparecendo. Só pôde assistir à chegada do tergal. É que Nazaré já se foi faz tempo. Veio cumprir seu ofício modesto e necessário pelo tempo que deu.
Simples e operosa, em uma colônia não longe daqui, hoje se dedica a novas ações. Pois precisa cuidar das antigas patroas. Detentora dos patrimônios da humildade, simplicidade e fé, já não precisa mais do ferro de passar.