Foto: Agape TM
Por: Antonio Mata
Por influência da avó, que a havia criado desde menina, pois sua mãe passava o dia em uma repartição pública, Ana Maria adquirira o hábito de criar vários animais, isto já em sua casa que mais lembrava uma chácara, cheia de flores, plantas e frutíferas. Além é claro, dos seus bichinhos. De uma forma um tanto quanto caótica, a bicharada se estabelecia por todos os cantos do lugar.
Galos, galinhas, gatos magros e gordos, cachorros de todos os tamanhos, a maioria recolhido das ruas, papagaio, periquitos e tartarugas. Os bichos dividiam não só o grande quintal, mas a varanda, a garagem, a sala, cozinha e alguns quartos da casa, junto à sua protetora Ana Maria.
Ela já viúva e cujos três filhos, todos eles adultos, já haviam ganhado o mundo a alguns anos. Assim Ana Maria preenchia seus dias, ocupada em cuidar de seus animais, sua grande satisfação.
Como já havia se aposentado, decidiu-se então por acompanhar a sua bicharada mais de perto, o que lhe agradava muito. Em que pese o aspecto confuso que às vezes o cenário doméstico apresentava, era inegável que seus animais eram limpos e higienizados.
Não sem esforço, pois tudo aquilo dava com frequência muito trabalho, além de uma despesa considerável para manter todos os seus animais adequadamente e com saúde.
Diferentemente do que se poderia até mesmo esperar, a casa de Ana Maria não exalava odores desagradáveis. Adoradora de plantas e flores, outra coisa da qual seu espírito feminino se beneficiou da presença da avó em outros tempos.
O terreno ao redor da casa era ornado de canteiros e jardineiras, com fileiras de vasos de plantas na varanda e na calçada em torno da construção. O perfume floral que adocicava o ar era consequência natural da dedicação de Ana Maria.
No aspecto humano havia ainda umas poucas amigas da vizinhança que eventualmente apareciam para um café com bolos e torradas, e a conversa descontraída dos fins de tarde. Ana gostava destes pequenos eventos onde ofertava bolos. Tudo era fruto de suas experimentações culinárias. Tais experimentações criavam, porém; um cenário por demais interessante.
Como fazia bolos diversos, com combinações diferentes e ingredientes adicionais ao sabor da criatividade de Ana, e com resultados muito bons; muitas destas receitas eram bastante apreciadas pelos visitantes da casa.
Só havia um detalhe, é que fatalmente alguém pedia uma receita aqui, uma dica ali, de como fazer aqueles bolos tão saborosos. Como Ana Maria fazia-os “de cabeça”, e como não anotava as novas combinações de sucesso, ela não lembrava das receitas.
Como os seres humanos são tendentes a encarar tudo, primeiro por uma ótica negativa das coisas, ficavam pensando que Ana Maria não queria oferecer as receitas; por pura vaidade. Julgavam que as escondia das amigas de propósito.
Só que isto nunca foi realmente verdade. É que ela simplesmente não lembrava mais. Em outras palavras, os seus bolos eram verdadeiras obras de culinária únicas. Quem comeu, comeu, quem não comeu, não come mais.
Tinha muito ainda, as fofocas comuns da vida nas ruas próximas, além da culinária, é claro, que enchiam as conversas daquelas tardes.
Havia também, e inevitavelmente, a vida, os feitos e as diabruras que a bicharada da casa certamente produzia toda vez. Além dos comentários do veterinário, que fazia visitas em domicílio, sempre que a bolsa de Ana Maria permitia.
— Zélia, o Paquito teve uma crise de carrapatos horrível. Tudo porque o confiado fugiu e entrou naquele matagal que existe lá no final, já descendo a rua. Está tomando banho com carrapaticida. Contava as desventuras de Paquito.
— Daniel quando esteve aqui, sugeriu aplicar em todos os cães, só por precaução, já que eles ficam juntos. Já pensou? Pedi ajuda da Francisca e do marido dela. A minha coluna já não aguenta mais esse tipo de coisa.
Sem que as amigas pudessem ver, um grupo de seres estranhos e de aspecto sinistro, em espírito, acompanhavam momentaneamente a conversa das mulheres do lugar.
Estavam na casa de Ana Maria com outros propósitos, e bem mais agourentos e preocupantes que a crise de carrapatos do pequeno e fujão Paquito, que a despeito da fuga sorrateira, recebera toda a atenção e o carinho de sua tutora.
Um dos sinistros, assim falou:
— Zé da Cova, deixa essas comadres conversando aí e vai lá pra cima preparar o quarto da irmãzinha Ana. Essa noite ela vai ter uma surpresa. Deixa tudo pronto pra quando ela for se deitar. A heroína está querendo ampliar seu leque de bondade. Prosseguiu o sinistro obsessor em tom de deboche:
— Além de cuidar desse monte de bichos, andou fazendo doações para famílias pobres do bairro. Pensa que me engana. Vou mostrar pra ela o que acontece com quem tenta colocar as manguinhas de fora e fugir do meu controle.
— Vai ficar sem o Paquito hoje chefe, por causa dos carrapatos. O senhor pensa em tudo né chefe? Emendava seu patético subordinado.
— E teria dado muito mais certo se você não tivesse deixado o vira-lata escapar e correr para casa, ao invés de dormir no mato como te falei pra fazer, sua besta! Vociferou o sinistro.
— Já teria cuidado disso tudo a mais tempo, seu idiota. Vociferava o agourento espírito insatisfeito com o desempenho medíocre de seu pupilo desajustado.
Enquanto as mulheres ainda conversavam na varanda, o assistente Zé da Cova subiu até o quarto levando uma caixa contendo vibriões espirituais, sintetizados em laboratório, a partir do lixo mental humano, pacientemente separado e selecionado para o mais maléfico efeito possível.
Soltos dentro do quarto visavam torturar mentalmente Ana Maria, fragilizar seu organismo físico para, em sucessivas e pacientes etapas, conduzi-la à loucura, e finalmente ao tão esperado suicídio. Meta final dos perseguidores de espíritos na matéria, subtrair sua existência terrena e a energia vital que lhes restar.
Ana Maria não era má, mas por conta de episódios, desta e de outra vida pretérita, havia guardado muita mágoa e rancor de outras pessoas, e notadamente; do falecido marido.
Sem saber lidar com tais sentimentos, e sem se valer do contributo do perdão, produziu fixações mentais que agora eram amplificadas pelos entes sinistros no intuito de aumentar sua perturbação, e com ela a manipulação da mulher.
Esta, esquecida de lições simples oferecidas pelo Príncipe da Paz. Na realidade, medidas de segurança em um mundo tão conturbado como o nosso. Orar, pela necessidade de proteção, e vigiar, pela condição de se manter alerta.
O pequeno Paquito era a compaixão do Divino Pai Celestial posta a seu lado para atuar como escudo protetor. Daí a preocupação, da parte dos sinistros, em querer afastá-lo. O pequeno vira-lata, fora abandonado à própria sorte nas ruas.
Foi resgatado pelo senso humanitário de Ana Maria. Era espiritualmente robusto, e repleto de energias benéficas. Valente, fiel e destemido tudo faria, por gratidão e amor, para proteger sua querida tutora.
De igual modo se poderia dizer da Filó, sua gatinha angorá, outro presente Divino para auxiliar na proteção de Ana Maria. De tal forma que sua passagem pela Terra não fosse em vão.
É relativamente comum que estes corajosos animais doem a seus amados tutores até o seu último suspiro no afã de defendê-los. Pois, são capazes de ver quem ronda a casa e quem se aproxima de seus amados, dos dois lados da vida.
Longe do que poderíamos imaginar, a guarda, a vigilância que estes animais nos oferecem, é dupla. Entretanto, o momento em que o simpático Paquito seria exigido em suas melhores características de cão corajoso, amigo e protetor, estava se aproximando.
Ana Maria havia se despedido da amiga Leocádia, satisfeita com as amenidades do dia e as sempre presentes histórias a respeito dos seus bichos, enquanto Leocádia comentava quanto aos animais dos vizinhos, na falta de outro assunto.
Tomaria um banho, pegaria um livro, ou assistiria TV até a vista cansar, quando se recolheria para dormir. Ainda estava incomodada por não poder deixar o Paquito ficar dormindo no quarto, como de costume.
É que Paquito já havia se tornado um de seus favoritos. Era brincalhão sem ser barulhento, mas muito atento ao movimento da casa. Teria de deixá-lo do lado de fora, na varanda, junto a outros cães.
Estes também já estavam sendo tratados. Paquito ficaria com eles até que superasse a infestação de carrapatos. De qualquer modo, no quarto, Ana ficaria com a Filó, que dormia em cima da cama, junto dos pés de Ana Maria.
Paquito foi quem estranhou de verdade. Estranhou o frio, a falta da cama para se meter debaixo, a luz acessa da varanda, ao invés do escurinho do quarto, folhas caindo e cachorro roncando, ao contrário do silêncio abençoado no cômodo de sua tutora.
Sentiu-se usurpado, esquecido e humilhado. Que situação lamentável, para um cão protetor. Estava se sentindo enganado, depois de ter conquistado seu lugar de destaque com tanto esforço e dedicação em agradar Ana Maria.
Enquanto isso, na medida em que Ana Maria se preparava para deitar-se, o momento em que Paquito colocaria todas as suas melhores qualidades à prova se aproximava. O cão, posto na varanda permaneceu incomodado com as companhias que se ajeitavam para dormir no local junto a ele, mas com o tempo sossegou, e foi se enrolar em um dos cantos.
Quando os demais cães já dormiam, foi Paquito quem melhor acompanhava e prestava atenção na movimentação na varanda. Foi quando distinguiu a silhueta de seres sinistros na casa. Permaneceu deitado, porém, sentia que já tinha visto aqueles estranhos, e não havia muito tempo.
Pôde visualizar a porta de acesso à sala, a tempo de vê-los entrar sem tocar em nada, sem abrir a porta. Apenas passaram e adentraram a casa sem nenhum ruído, sem nenhum esforço.
Paquito começou a rosnar baixinho, mas continuou deitado. As duas figuras sinistras haviam tomado o rumo do quarto, aonde chegaram sem dificuldades. Ao entrar rapidamente notaram a pequena Filó em cima da cama, enquanto Ana Maria dormia.
O quarto já havia sido previamente saturado com energias negras, tal e qual rolos de uma fumaça densa e de aspecto gosmento que envolvia gradativamente a cama e o corpo físico de Ana Maria, que parecia viver terrível pesadelo, onde era sufocada por criaturas horrendas.
Amparados nos sentimentos negativos da mulher, os sinistros promoviam o seu envolvimento plantando ideias que reforçavam a sua frustração. No intuito de atingir e fragilizar gradativamente o seu corpo físico, dispararam setas na direção de Ana Maria.
O que se deu, é que os petardos eram desviados na direção de Filó, que os absorvia continuamente, impedindo que chegassem até aquela que, às vistas dos homens, deveria ser sua protetora.
O embate em defesa de Ana Maria estava se tornando desequilibrado. Leonor, bisavó já desencarnada de Ana, que prosseguia atenta a tudo o que passava, tinha dificuldades para intervir por conta dos sentimentos guardados pela bisneta, cujas vibrações a aproximavam dos trevosos e a afastavam de sua mentora. É a Lei de Afinidade em ação. Ana Maria possui o livre arbítrio necessário para nutrir o perdão das ofensas, se não o faz é porque não quer.
Isto estava lhe aproximando perigosamente de seus perseguidores. Enquanto Ana Maria sustentasse sentimentos de rancor, estaria sob risco de novos ataques. Era um tormento voluntário.
De todo modo, Leonor pressentiu que a gatinha Filó não suportaria por muito tempo os sucessivos ataques, e acabaria por se retirar, pela necessidade de descarregar tais energias absorvidas em seu corpo espiritual.
Então lhe veio à mente uma atitude de urgência, que certamente teria a anuência de Ana Maria. Leonor desceu rapidamente e chamou pelo Paquito.
— Depressa Paquito, late Paquito! Faça barulho, acorda todo mundo! Paquito não pensou duas vezes e desandou a latir freneticamente, chamando a atenção dos demais cães que, assustados se puseram a latir também.
Aos poucos Ana Maria foi acordando e se dando conta da barulhada junto à varanda. Levantou-se devagar e dirigiu-se à porta, descendo em seguida, pois a confusão no andar debaixo estava grande.
Assim que Ana abriu a porta da sala para ver o que estava acontecendo, Paquito, liderando um pelotão de cães barulhentos invadiu a entrada, ganhando a escadaria em direção ao segundo andar. Leonor, do outro lado da vida, conduziu o papagaio e as galinhas, em espírito, a invadir a casa, também se dirigindo para o andar superior.
Quando todos se encontravam no quarto, o que se passou foi uma cena digna de um filme de ficção científica. As aves, dirigidas pelo Alfredo, o papagaio, atacavam as formas pensamento, que aglutinadas, se apresentavam tal e qual seres parecidos com morcegos, com uma cauda comprida e totalmente pretos.
Tais formas eram comidas pelas aves que as pegavam com o bico. Alfredo as atacava rente ao teto, enquanto suas companheiras de assepsia realizavam os conhecidos “voos de galinha”, capturando as formas mentais durante o curto voo, além daquelas que se aventurassem perto do chão.
Com a chegada de Paquito e dos demais cães em seus corpos físicos, os rolos de fumaça começaram a diminuir capturados pelas energias dos animais, iniciando-se a assepsia de todo o quarto.
Ana Maria que havia subido em seguida, pôde ver sua pequena Filó, se arrastando com as patas dianteiras por sobre a cama. Pensou que ela talvez tivesse se machucado.
Então pegou-a no colo e desceu até a sala onde acendeu as luzes na intenção de socorrê-la, se fosse preciso. Com a gatinha deitada de costas em suas pernas, constatou que não tinha nenhum ferimento visível.
Ficou com a Filó no colo por alguns minutos, e qual não foi sua surpresa ao ver em seguida a gatinha saltar do seu colo e sair da casa. Ana não entendeu coisa alguma, saiu no encalço de Filó, sem conseguir avistá-la.
Deu então uma volta ao redor da casa tentando encontrá-la, acreditando que teria acontecido mais alguma coisa com a sua fujona, algo que não sabia identificar até aquele momento.
Com a mesma facilidade com que havia se afastado, Filó retornou minutos depois. Se aproximou de Ana Maria, e jogou-se no chão de barriga para cima, olhando para sua dona. Ana muito impressionada, lhe dizia:
— Filó eu não acredito. Você estava se arrastando, parecendo estar com muita dor. Como que agora está nesse sossego todo?
O que Ana Maria nem sequer desconfiava era do heroico combate ocorrido dentro do seu quarto, onde os dois sinistros eram acuados por Paquito que os havia detidos em uma das paredes no canto do quarto.
Enquanto isso, assistiam aves, estas em espírito, uma gata e um bando de cães arruinarem seu plano diabólico e asqueroso, este totalmente invisível aos olhos de Ana.
Não aos olhos abençoados e vigilantes de um vira-lata valente. Paquito conduziu a sua tropa socorrista que agora acuava os intrusos. Ainda que nem todos os cães entendessem o que o valoroso vira-lata estava fazendo latindo para as paredes.
Como Paquito, agora na condição de líder do grupo, se ele latia, então era porque tinha que latir. Assim, seguindo o líder todos latiam para as paredes do quarto ao mesmo tempo.
Zé da Cova, em um apupo de inteligência comentou:
— Chefe parece que a gente ficou preso.
O sinistro chefe o fuzilou com os olhos vermelhos.
— Sua besta-quadrada... Você ficou preso, seu idiota.
Deixou o quarto atravessando a parede, com o seu auxiliar ficando para trás durante sua pesarosa e humilhante evasão, sendo tangido por um simples cachorro encontrado na rua. Até porque, já não havia nada o que fazer ali.
— Chefe, chefe! Me leve também, isso aqui tá cheio de cachorros. Gritava o pobre e ignorante malfeitor, dependente de seu líder para conseguir passar pelas paredes.
Ante a incapacidade do espírito infeliz, perturbado e dominado por seu chefe em uma relação de escravidão, acabou fazendo o que todo encarnado faria.
Correu na direção da porta do quarto. Cruzou o pequeno corredor e saltou pela escadaria, indo sair pela porta aberta da sala no rumo tomado por seu mestre.
Atarantado, nem se deu ao trabalho de prestar atenção em Ana Maria, junto à porta do quarto, que então retornava para recolher os cães que haviam subido até lá em cima.
Alfredo, o papagaio vitorioso na refrega, retornou ao poleiro no quintal da casa, mas não sem antes passear um pouco pelos ares junto de tantos outros seus pares, enfeitando os céus espirituais da Terra.
Usufruindo do majestoso presente de Deus, a liberdade fora da matéria, enquanto seu corpinho físico permanecia descansando, no aguardo de uma nova manhã. Era como se estivesse sonhando. Foi ainda sendo seguido pelas galinhas, desde o início, percorrendo recantos cheios de aves soltas na natureza.
Todas no grande e prazeroso sonho. Quando todos se fartaram de vida e liberdade, retornaram em espírito para o poleiro e para o galinheiro que sempre esteve fechado.
Dentro do quarto, Ana Maria, que só não estava mais por fora, porque era uma só, deixou Filó deitada sobre a cama e finalmente aceitou que o pequeno Paquito dormisse com ela, entrando todo contente por debaixo da cama, como era do seu costume.
Afinal, não sem esforço, havia obtido o merecimento. Ana levou os demais cães de volta para a varanda, onde foram se ajeitar para dormir. Retornou para o seu quarto, e no caminho tentava entender tudo o que ocorreu, buscando ligar os fatos, mas sem obter lá muito sucesso.
As coisas não se encaixavam direito, ficavam lacunas no caminho. Faltava-lhe a compreensão do espírito e das interações espirituais entre dois mundos sutilmente interligados. Um dia, tudo isso será tão normal, quanto visível.
Ainda que não possuísse os elementos necessários para interpretar com mais clareza o que os seus olhos físicos a haviam mostrado naquela noite singular, Ana Maria havia presenciado cenas absolutamente incomuns, e em série.
Desde Paquito latindo desesperadamente junto à porta da sala; a corrida frenética dos cães, casa adentro; todos os cinco animais correndo para o mesmo lugar; o seu quarto. A gatinha Filó que parecia estar ferida; os cachorros acuando na direção das paredes.
Foi uma sequência de ações por demais fora do normal. Ana Maria sentou-se na cama e pensava no que teria provocado aquela sequência de eventos.
Lembrou do pesadelo; então se deu conta de que aquele ocorrido parecia ter sido o motivo, que provocou o “start", o início daquela sequência de eventos, pensava. Os cães latindo em desespero de alguma forma lhe ajudaram a acordar e sair do pesadelo que a angustiava profundamente.
Depois a corrida dos cães direto para o quarto e latindo na direção da parede, como se houvesse alguma coisa lá. Filó, inicialmente parecendo ferida, sumindo de casa e depois se sentindo ótima. Agora todos os animais haviam se acomodado nos seus lugares para dormir. Os cães na varanda, mas também Paquito e Filó, agora todos pareciam estar em paz.
Foi quando então se deu conta de outra coisa; todo o mal-estar e sensação de medo que sentia antes havia cessado. Sentia-se sonolenta, porém, estava tranquila na quietude do quarto. Como se algo muito ruim houvesse de fato acabado, lhe deixando em paz.
Não tinha inclinações religiosas, nem maiores interesses nisso. Intuitivamente juntou as mãos, fechou os olhos e agradeceu a Deus por aquele sentimento de paz que a invadia de uma forma tão diferente, e tão agradável.
Ana não podia ver, mas Leonor sua bisavó, estava ao seu lado lhe intuindo, oferecendo-lhe bons sentimentos e energias curativas sob a forma de passe, impondo-lhe as mãos sobre sua cabeça, visando o chacra coronário.
Sua neta, muito tranquila, deitou-se enquanto pensava nas ótimas impressões que colhia naquele momento, adormecendo rapidamente. Ana Maria abrira sua mente para outras maneiras de se pensar. Ensaiava desligar-se dos sentimentos hostis que nutria pelo antigo companheiro.
Leonor, já na companhia de Mariza outra benfeitora espiritual que acompanhara tudo de perto, oferecendo suporte a Leonor, comentava com sua amiga de serviços no Bem:
— Foi demorado, mas finalmente ela está admitindo esquecer os conflitos que a feriram no passado, o que abre pela primeira vez, espaço para o exercício do perdão. Tão necessário para sua própria libertação e afastamento de irmãos ainda trevosos.
— Tem razão amiga. Esta noite nos traz um verdadeiro marco em sua vida. Deixemos que descanse um pouco e então poderemos trazê-la para conversar um pouco a respeito de seu pequeno, mas importante feito. Isto irá reforçar o bem-estar que sente agora.
— Quando acordar pela manhã, terá ainda vagas lembranças do nosso encontro, mas ainda suficientes para sensibilizá-la e manter sua onda de bem-estar por mais tempo. Comentou Mariza.
— Quanto ao auxiliar do sinistro, prosseguiu Mariza, ao qual chama de Zé da Cova, depois de sucessivos maus tratos, começa a se dar conta da manipulação que tem sofrido para subjugá-lo e escravizá-lo. Fez uma pausa e prosseguiu:
— Está chegando a hora de ser levado para um posto de socorro espiritual e para uma reunião mediúnica, onde poderá atendido e ouvir algo diferente do que está acostumado. Penso que está pronto para reagir e abandonar de vez esse tipo de vida.
— Sim Mariza, muito bem lembrado. Ele igualmente não sabia o que estava fazendo. Comentou Leonor, e prosseguiu:
— Seu chefe, que o deixava cativo, não tardará a escravizar outras mentes perturbadas e subjugá-las para o mal; pois aqueles que resistem apanham muito. Só depois de muito sofrimento e violências inconfessáveis contra espíritos de homens e mulheres é que estarão prontos para lembrar e compreender uma bela mensagem:
“ Vinde a mim vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei..., pois suave é o meu fardo e leve o meu jugo.” (Mateus XI: 28-30).
— Mas Ana Maria em breve quebrará os vínculos mentais que a prendiam nesta vinculação viciosa. Prosseguiu Leonor.
— E quanto aos novos irmãos escravizados, vamos providenciar para que enxerguem a Luz de Deus. Genésio, o sinistro, também não demorará muito a entender por que está sempre sendo abandonado, e para onde vão aqueles que o abandonam. É só uma questão de tempo. Eles próprios se cansam de viver assim.
— Graças a Deus, Leonor. O fim da escuridão se avizinha, nunca estivemos tão próximos. E com ele também; uma nova vida para incontáveis animais postos juntos do homem para ajudá-lo na jornada que está próxima do fim, mesmo que ele não tenha compreendido este propósito. Maravilhosa aurora, é o sonho de muitos na Terra.
Tomadas de sentimentos elevados as duas benfeitoras, a serviço do Amor Cristão deixaram a casa de Ana Maria, conscientes de que aquela página havia sido virada em definitivo. Trabalho paciente, conhecimento, esforço e oração. Esta foi a fórmula do sucesso.