Foto: pxfuel
Por: Antonio Mata
Bastou o sol raiar no horizonte. Por hábito, encheu o peito de ar, sacudiu-se, como quem retorna da terra dos sonhos, olhou ao redor. Encantado pelo sol da manhã que se aproximava, colocou-se a chamar pelos demais.
Não precisou fazer muito. A mensagem foi compreendida de um modo que lhes é peculiar, eletrizante.
Se colocou a apresentar seus argumentos daquela manhã. Muito o que contar, episódios a esclarecer, detalhes a salientar. Expunha tudo com o entusiasmo juvenil que lhe era típico. Clínico nos pormenores, nada lhe escapava.
O frescor da manhã, a possibilidade de um dia tão ensolarado quanto quente, o que se comer, de preferência logo. A água que estava acabando não podia ser assunto menosprezado, justificando novos argumentos.
— Somos muitos, a água é pouca, precisa de mais. Está difícil, tem que se buscar longe. Quando volta, é a mesma coisa; já volta com sede de novo. Tem que fazer alguma coisa, tem que fazer sim, tem que fazer já.
Foi por volta das seis e meia. Definida aquela que seria a grande preocupação do dia, partiu-se para a fase das opiniões, apartes, esclarecimentos, explanações, e de vez em quando conclusões.
Desprovidos de qualquer coisa que pudesse significar quem é o primeiro, expunham opiniões e pontos de vista, todos ao mesmo tempo, em profusão, de uma vez só; igualmente entusiasmados, prolixos e eletrizados. Não houve detalhe que escapasse ou se perdesse. Nem que resolvesse sair dali bem de mansinho; seria trazido de volta e debatido fartamente.
O burburinho era indecifrável. Alto, barulhento e contínuo, buscavam algo difícil de entender da parte de alguém que estivesse de fora da discussão.
Foi pouco antes das oito quando parou tudo; de uma vez só. Se a mando ou por hipnose, se chegaram a um consenso ou conflito; nunca iremos saber. Também, vai prestar atenção em conversa de periquitos; maracanãs e curicas de manhã cedo.