Por: Antonio da Mata
Interiorano dos rios e matas desde a infância. Nos tempos do êxodo, foi buscar sua vida na cidade. Foi assim que, um dia, chegou a oportunidade de atender um sonho já até esquecido.
Demorado ou não, estava logo ali à frente. À disposição dos olhos. O fenômeno de se ver pelos olhos da matéria, é uma coisa. Quando se vislumbra, se lança o olhar a partir dos olhos do espírito, fica tudo diferente.
Diferente na intensidade das cores, de presença, de pujança. É a riqueza das formas. Na sua real grandeza. Como nunca imaginara que pudesse existir. Contudo, lá estava ele.
O amigo o chamou. De carro, seguiriam pela avenida Beira Mar. Cauteloso, humilde e contrito, preparou-se como quem aguarda um incomum espetáculo. Colocou um par de óculos escuros.
Tomaram o rumo da Alameda Cabo Frio. Logo à sua direita, a calçada, coqueiros, o areal e o mar. Emoldurando tudo, um céu azul Royal, belo e seguro na sua realeza. Seguiam cirros esgarçados, logo abaixo.
O azul Turquesa, de calmaria, mas parecendo preguiça, completava o sonho. Fazia a borda ao longe no horizonte. No mar, o azul Cobalto, alegria dos artistas do século XIX, oferecia a pureza e o brilho que lhe são típicos.
Atento, já sabia, pois se conhecia o suficiente. As telas multicoloridas se abriram diante dos olhos, incrivelmente vivas. Cenas de mar, barcos ao mar. Homens trabalhando, fazendo coisas que não conseguia definir o que poderia ser.
Não eram sua gente, ao menos não os identificava como tal. Muito brancos e cabelos dourados. Embarcações de lazer, homens e mulheres a bordo cruzavam adiante.
Em dado momento, uma mulher levantou-se e principiou a levitar. Elevou-se no céu daquela tarde. Parecia acompanhá-lo à meia distância. Ato contínuo, desfraldou uma bandeira e acenava de um lado para outro em movimentos repetidos.
Escondido atrás dos óculos escuros, reconheceu a bandeira. A reconheceria em qualquer lugar. Tomado de emoção, principiou a chorar. No fundo branco, em letras azuis, lá estavam as palavras, na bandeira do anjo Ismael. Deus, Cristo e Caridade. É tudo real, é tudo verdade.