Foto: H. Feliciano.
Por: Antonio Mata
Já haviam contado que iria amanhecer. Pombos arrolhando no telhado e curicas conversando na mangueira do vizinho.
Queria cochilar, aproveitar o silêncio do final de madrugada. Esse silêncio faz um bem e tanto, para refletir, lembrar, orar, dormir de novo. Depois das três ou quatro, começa o retorno. Quem foi bem, voltou muito bem. Quem foi mal, agora só resta assumir e não ficar colocando a culpa nos outros.
Começaram a andar em cima do telhado e a bicar alguma coisa. Com a conversa das curicas que ia acordando todo o condomínio das árvores, e sempre mais empolgada, não deu mais jeito, desistiu de vez do cochilo.
Na janela, para se apreciar de vez aquela coleção de trinados, gorjeios e arrolhos. Na varanda, aquele quase frio da madrugada estava primoroso. Um vento suave de leste, a sombra das nuvens. A luz não tarda a chegar.
Bastou riscar levemente no céu, por entre as nuvens, para acionar todo e qualquer passarinho que estivesse por perto. Também pudera, que amanhecer mais lindo, esse de domingo.
Tinha ainda algumas coisas para cuidar na periferia. Crianças e famílias para visitar. Dia claro de ar insistentemente fresco, de vento por demais suave. Só o motor e o barulho das rodas para destoar, pensava.
Gostou de retornar por entre ruas quase desertas. Janelas abertas; o céu todo nublado de nuvens altas; o sol estava lá, só não dava para ver. Tudo mais agradável do que de costume.
No meio da tarde, o vento agora é de oeste, quase “reprise” da manhã. Numa hora dessas, casais de araras e curicas passeando no céu. É que não havia sol para torrar suas costas. Resolveram gorjear o dia todo. Sombras nas nuvens altas mostrando que vai escurecer mais cedo. Noite calma, tão bem-vinda quanto a manhã. A passarada foi dormir.
Em outubro, Amazônia, no meio do continente, estava tudo bem. Que dia lindo fez domingo.