Imagem: Wikimedia Commons - Carolina Franco
Por: Antonio Mata
São Gabriel, São Joaquim, Matapi e região. As comunidades se reúnem enviando seus representantes. Mais de 40 canoas são reunidas e se põem a caminho. Em muitas outras comunidades da calha do rio Negro e do Uapés, ocorre o mesmo.
Imbuídos de bons sentimentos e boa dose de sadia ansiedade, índios, caboclos e aqueles que adotaram a floresta como o seu lar, dirigem-se para o ponto de encontro de importante reunião.
O deslocamento é rápido, onde em uma única remada, quilômetros são percorridos. Os remadores se revezam para sustentar a marcha. O destino é o Parque Nacional do Jaú. Entre Mucura, Arpão, Deus-me-deu, Taboca, Nonato e Morcego.
Aqueles, dos dois lados da vida, que ainda não compreendem, não deixam de sentir o equilíbrio e a paz que se estabelece. Existem aqueles que seguem de veículos que levitam, viajando suave e rapidamente.
Não por acaso ou por desconhecimento, os filhos da floresta, para vencer os 900 km até a área no Jaú, preferem ir remando. Homens de muitas andanças. Onde descobriram os canais, um por um.
Mesmo assim, serão levados onde precisam chegar. Pois, não cruzam as águas no tempo do mundo físico. Acompanham as paisagens das matas, como se estivessem em um veloz Boeing, um Embraer, ou mesmo um Airbus.
Tal é o movimento do outro lado. Mas, para aqueles que ainda não aprenderam, é muito penoso subir e descer o canal. Sentem o cansaço nos braços. Acreditam que continuam na carne.
Encontram-se então na floresta, onde enviados celestiais vêm lhes falar de um futuro que já não demora mais. Onde as bem aventuranças significam o fim da destruição, do desmatamento, das queimadas, da poluição e da maldade.
O início das matas sem caça e sem caçadores, sem venenos e sem predadores. Das cores mais vivas. Do lar finalmente conquistado. O início da paz na Terra.