Por: Antonio Mata
O cansaço era extremo, a sede enorme, o odre seco. A cabeça pesada, doía e a lembrança não o deixava em paz. Vagou feito animal perdido pelos sertões na busca de algum alento.
Lamentava a sorte, a sina, a perda. A perturbação causadora do desterro involuntário. Mais que a partida, a fuga sórdida, prematura e infame. O fim sem começo, sem encontrar vivalma.
Sabia desde o início que morrer seco, dementado, com os ossos expostos ao sol na terra de ninguém poderia muito bem ser o resultado da sua indigência. Do acesso de cólera e do gesto vil. Isso o destruía, debaixo do sol, da noite, da chuva e do frio.
Um ser malsão, vagabundo e ordinário. Ao indigente não importa. É quando a morte chama de alívio. Tamanha a sanha, mas, ao final, só mais um assassino. Só mais um dementado.
Caiu extenuado, a razão lhe fugia, a vida se desfazia, o sol lhe ardia. Agora é só aguardar o óbvio e se deixar perecer.
A vida é frágil, o mundo é frágil. Suas matas, campos, animais na terra, pássaros no céu. Falam do que pode perecer a uma inflexão da mesma vida.
Deixou-se levar pela dor e pelo remorso. Ainda assim, vagava amparado em antiga fala de seu pai. Há de se encontrar algo ou alguém muito mais adiante, muito mais além. Onde o sol nasce. Tão longe que nunca teve interesse em querer procurar.
Finalmente caiu, se avizinhavam os últimos estertores ao moribundo. Quando então, gotas de vida lhes chegavam ao rosto e à boca. Magia franca, milagre de ação Divina.
Enquanto alguém lhe derramava água sobre o rosto e a boca, este percebeu que o homem, aos poucos se reanimava. Curioso daquele jovem forasteiro e estranho, buscou lhe falar.
— Quem é você?
Abatido, respirando com dificuldade, então respondeu.
— Me chamo Abel.