Por: Antonio Mata
Até que acreditava, ou ao menos parecia acreditar, que de modo geral as coisas correriam relativamente bem. Não era rico, muito menos belo.
Também não via problema algum em não ser apontado entre os mais inteligentes e no fato de ser apenas um cara comum. Desses que andavam de ônibus e caminhavam pelas ruas de qualquer cidade, de qualquer lugar.
Vida estável, o que aprendera, o que ganhava, dava para o gasto. O resto deixava como consequência. Já que se saía bem na tal da vida de rotina, onde sextar, fazia sentido. Estava tudo certo.
Só não podia pensar muito a respeito.
Se o fizesse, situações e aspirações sem resposta, fatalmente viriam, sem que pudesse dar um jeito naquilo. Havia sim, era verdade, o tal do vazio existencial. Gostasse ou não, ele estava lá. Não se deixaria tapear tão fácil.
Os 40 já haviam ficado para trás, com o tempo avançando. Sem dúvida que fez e aprendeu um monte de coisas. Mesmo assim, ainda não era isso. Podia ler, até conversar. A danada da impressão de que algo faltava, não desaparecia.
Chegou a pensar que fosse dinheiro e passou boa parte da vida correndo arás dele. Daí ter estudado e trabalhado um bocado. Só não conseguia uma satisfação mais completa. Então, o vazio até que se afastava, mas não desaparecia.
Dos divãs às igrejas, tem gente assim espalhada por todos os lados e desejosos de se encontrar. Aquilo capaz de os completar e trazer mais uma satisfação à vontade de viver.
Seria bom, seria útil descobrir logo, antes que os 50 e os 60, se tornassem mera contagem para a mesmice, repetitiva e perigosa. Qual o seu lugar no mundo? Você serve para quê?
Muita gente na juventude fez testes vocacionais. Nem por isso encontrou depois, o que buscou por anos a fio. A resposta se mostrava complexa demais, oculta demais.
Dependeria talvez, de alguma peça ainda não encontrada. Porém, constatou-se que a resposta já existia. Muito embora, alcançá-la dependesse de outros fatores, simples até. Mas, formadores da mesma caminhada.
Muitos são, ou foram portadores de talentos. Se vocação é uma indicação, o talento lhe completa. Põe o trem em cima dos trilhos e apontado para o lado certo. Para ficar fácil e mais seguro. Por uma razão muito simples. O talento é de natureza milenar. O que tem de antigo, tem de íntimo e pessoal.
Não tem a ver somente com técnica ou adestramento. Técnicas têm a ver com a repetição de padrões. Adestramentos são acessíveis, mesmo aos animais. O talento é íntimo, de inclinação tão natural quanto o ato de se viver.
Pense em uma criança de cinco anos ou menos, que toca um instrumento musical divinamente bem. Resultado milenar do gosto apurado e sensibilidade incomum. O que dizer quando resolverem fazer as suas próprias partituras? Ou não.
Ela poderá ainda nos deixar, no próximo Covid, da próxima crise, nas águas da enchente, da tempestade, nas ondas do tsunami, nos ventos de um tornado ou furacão.
E mesmo assim, terá cumprido a sua missão. Pois aquelas mãozinhas falavam do imperecível, do que é imortal. Veio só para mostrar o resultado do seu aprendizado milenar.
As incontáveis horas de treinamento e refinamento, na habilidade de um instrumento, se tornaram tão antigas quanto a descoberta da roda. O que se tem diante dos olhos é o resultado. É a parte que aparece nos vídeos, comentários e reportagens.
Talvez, quem sabe, na rua que passa, no banco de praça, da mesa de bar, do quarto escuro da noite a pensar, sempre a vagar. Então, perguntasse: e eu, e eu, faço o quê? Presto para quê?
Em um mundo em que tanta gente parece fazer tanta coisa. O que faço eu? O que sei que me dá satisfação em ser e fazer? Como posso ter satisfação, alegria, bem-estar com aquilo que eu mesmo faço?
Estamos cercados de amigos invisíveis dispostos a ajudar. Contudo, não é qualquer voz, nem é qualquer visão. Nem qualquer miragem ou comunicação. A mente sã em corpo são, sempre será um compromisso individual e necessário. Para que se possa retornar ao que sempre foi sagrado, por mais que estivesse esquecido.
Buscai, primeiro, o Reino de Deus e a sua justiça. Que todo o resto vos será dado.
Procure limpar, arrumar a própria casa mental, para que então se possa acessar novas ideias. Seja mobilizando teus esforços, teu aprendizado ou teus haveres.
Sempre haverá quem se desenvolveu, evoluiu, menos que você. No passar dos anos, aprendeu menos que você ou não pôde dispor de melhores recursos e oportunidades.
A Parábola dos talentos fala daqueles que guardaram e aplicaram tudo o que de bom receberam, lhe conferindo um direcionamento positivo e útil.
Mas, também fala principalmente, sendo este o principal aspecto motivador da fala de Jesus, do servo infiel, do anjo caído. Do motivo da queda. Daquele que por medo, orgulho, egoísmo ou vaidade, um dia se perdeu.
Ela fala de uma multidão que um dia foi arrastada para um mundo de muitas incompreensões. Que, no entanto, haviam sido causadas por eles próprios.
Já que seus melhores e maiores talentos lhes foram retirados, por força do mal uso. Daí o sentimento de vazio. De algo que está faltando. Mas que poderá retornar pelo respeito ao que é divino, ao que é sagrado.
Assim, os anos de angústia e ansiedade, gradativamente ficarão para trás. Em favor do homem novo, o ser integral.