Por: Antonio Mata
Coisas grandes surgem, e com frequência, grandes demais. A ponto de, em um primeiro momento, não se dar conta do que aconteceu. Se percebe que foi grande quando submetida ao crivo do passado à sua cristalização nas lembranças.
Naquele início de noite foi tomada de um desses momentos de decisão que marcam a vida das pessoas. Não haveria como ser diferente. Pois, se apoiava na lógica das coisas.
Dirigiu-se ao canto da sala com uma ideia fixa. Um pouco mais de atenção dos demais, e aqueles olhinhos se permitiriam ler tudo de uma vez só. O tal momento estava prestes a acontecer.
Aproximou-se, segurando com as duas mãos apoiadas na parede. É uma ação mecânica simples. Uma vez que exista apoio, para compensar o pouco equilíbrio. Se ocorrer uma força para cima, todo o conjunto há de subir. Essa era a ideia desde o início. Subir de corpo inteiro.
Deve ter se cansado de enxergar as coisas da altura do chão. Queria uma visada mais elevada. Até porque era assim que todos faziam. Enxergavam do alto e podiam mexer nas coisas que ficavam mais acima. Era tudo muito convidativo.
Equilibrou-se, virou-se para os demais e deu o seu melhor sorriso banguela. Finalmente havia conseguido. Sacudindo o corpinho, de tanta felicidade, era de imaginar que fosse cair sentada. Mas, agora não importava mais. Já sabia o que fazer. Já havia sentido o gostinho.
Foi assim, Sofia Elena se cristalizou nas retinas e nas mentes de quem viu. O dia exato o vento levou, ninguém sabe mais. Porém, a lembrança da bebê em seu momento de grandeza, quando menos se espera, aparece.