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Por: Antonio Mata
Noite escura e fria, sem estrelas. Os pequeninos se juntam o máximo possível. Só assim conseguem parar de tremer. De qualquer modo, sempre existe um que fica na extremidade.
Na escuridão, tudo balançou leve e repentinamente, sem, contudo, acordar a todos. Alguém se ajeitou, foi só um tremelique? Se acomodaram mais uma vez.
Dali a pouco, nova sacudida e nova acomodação. A noite começa a parecer muito agitada. Em dado momento sentiu-se puxado por algo que o pressionou de cima para baixo e debaixo para cima. Não tem tempo sequer de abrir os olhos, dormindo que estava, muito menos para entender o que se passava.
Também não houve naquele dia, oportunidade de se interessar por outra coisa que não fosse comer e dormir. Daí os olhos sempre fechados e despreocupados. Era o último daquela fileira de dorminhocos. Mais exposto impossível. Não acordaria do seu sono pesado de jeito nenhum. Só lembrava de uma coisa.
Já pela manhã apreciava o sol sobre o campo florido, prestando atenção a grande e bela revoada conduzida pelos mais velhos desenhando movimentos no céu. Se enche de ânimo, de coragem e de vontade de viver. Um dia gostaria de desenhar no céu também. Pouco depois foi atraído de uma forma tal, que teve de deixar aquela campina.
Quando acordou já estava em um ninho novamente. Certa vez, bastou abrir os olhos. Viu ao redor e em seguida ficou tudo escuro de novo, com aquela impressão de estar sendo abocanhado. Então, logo após o susto, mais uma vez, o céu azul tomado pela revoada.
Não fazia muita ideia do que pudesse esta r acontecendo. Tal sequência de coisas incompreensíveis insistia em acontecer. Repetia e repetia. Até que um dia pôde pressentir uma presença que o fez começar a gritar. Fez isto incontáveis vezes ante a presença de um bicho de olhar estranho e penetrante. Era só do que conseguia lembrar. O susto, o grito e a escuridão. Não saberia dizer quantas vezes esteve em tal situação assim, tão pavorosa.
Foi então que certa vez, ao perceber a presença daquela forma estranha, criou coragem, pôs força nas pernas muito finas e simplesmente saltou, se afastando dali rapidamente, pondo-se em segurança. Nunca mais voltou a ser molestado daquela forma, ou ser pego tão facilmente. O medo que um dia o paralisou, acabou substituído pela coragem e pela atenção.
Cresceu rapidamente, teve sua própria família, onde vivenciavam as mesmas dificuldades e as mesmas alegrias. Porém, teve tempo de ensinar aos mais jovens o que fazer diante do perigo.
Assim, cresciam, ganhavam as alturas e aperfeiçoavam o voo. Alturas maiores, velocidades maiores e planeios cada vez mais extensos. Hoje podem ser vistos em grandes bandos ao entardecer, enfeitando e desenhando nos céus. Enfim aprendeu.