Por: Antonio Mata.
Ligeira marola se fazia ao lado. Não o suficiente para encrespar e dificultar a visão do fundo. Não quis entrar ali e turvar a água com o movimento dos pés na areia fina do leito.
O som do vento, dos pés sob a areia, dos pássaros sobrevoando e do seu alarido ocasional, no céu sem nuvens.
Tinha, ainda, o aviso de um amigo para não levantar os pés, evitando pisar em pequenos e dolorosos ferrões de arraias. Adoravam se esconder na areia e, ao menor toque, dobrar a cauda de encontro aos pés dos mais desavisados.
A mesma areia fina fazia delicado tapete que o menor vento achava poder desfazer. Mas, só a deslocava, ao final, se olhasse para trás, veria que continuava tudo no lugar, onde um grão substituía o outro.
Nem folhas secas, nem o pisoteio apressado e saltitante dos pássaros. Nem as pegadas fundas de caçados e de caçadores. Postas juntas em tempos breves e diferentes. Estas, sim, o vento apressou-se em apagar e esconder.
Os arbustos, logo ali, densos e ao alcance dos olhos em toda a faixa de praia. Crescendo e fenecendo sucessivamente. Bom de se esconder, bom de se fazer tocaia.
Ainda era paisagem viva que o tempo levou. Não vi nem perguntei pelas arraias. O tapete frágil já não era mais tão branco. Aquele mesmo que os ventos insistiam em soprar, ainda estava lá, só não resistia como antes.
O pisoteio agora estava em toda parte. Também os restos humanos e as marcas dos pneus de seus carros.
Contudo, nunca mais esqueci aquela imagem assim mantida por tanto tempo, séculos afora. Enquanto era alcançada pela retina, sucessivas vezes, ano após ano, até que então se acabou.