Por: Antonio Mata.
Café puro com tapioca foi o suficiente. Estaria ótimo, não fosse pelo monte de açúcar. Tomou-se o caminho logo pela manhã, era só seguir adiante. Nem era bem uma estrada.
O caminho para vila Aurora, por terra, era uma picada no mato, um atalho. Às vezes dava para caminhar lado a lado, para depois fechar de novo. Todos em fila indiana e facão na mão.
Arbustos, cipós, árvores finas a subir alto. Muita serrapilheira cobrindo o solo e a folhagem verde em volta. Às vezes tão densa que fazia escurecer. Era excesso de sombra.
Não dava nem 5km até a vila. Depois, para vila Julião, mais 7km. Apenas chamavam de vila, não havia em cada uma delas uma centena de pessoas. O som da passarada, insetos e animais rasteiros, com seus estalidos. Além das folhas sopradas ao vento.
Tudo muito comum, não fosse por um detalhe. Henrique perfurava a terra por onde passava com a ponta de um bastão de seção oca. Assim coletava pequenas amostras de solo. Foi quando notou que abaixo da serrapilheira já não havia barro, a argila.
Resolveu cavoucar a terra mais um pouco, enquanto os demais olhavam ao redor. O que havia encontrado era terra preta. Principiou a fazer vários pequenos buracos, encontrando então, maiores e menores concentrações.
Ao se prosseguir na direção da vila Julião, tornou a fazer pequenas escavações. Continuou encontrando esse tipo de solo, produzido pelo homem ao longo dos séculos. Além de algo muito recorrente, os amontoados de cacos cerâmicos.
— Tá bom home! Já chega de olhar esse negócio. — Reclamava o velho Agenor. Sem compreender o propósito daqueles buracos.
Henrique procurou esclarecer.
— Fiquei com a impressão de que essa faixa de terra preta pode ser bem mais extensa. Mesmo que não seja contínua, a distância entre uma faixa e outra deve ser pequena. Tenho perguntado dos mais antigos e isso tudo parece ser muito comum. As faixas apenas estavam escondidas debaixo da serrapilheira e às vezes, alguma argila superficial. Achei ótimo.
— Mas, afinal, qual seria o seu interesse nisso?
— Pode ser que os povos mais antigos tenham identificado uma maneira de povoar sem destruir. Dessa forma podem ter encontrado o equilíbrio entre o tamanho da população e a disponibilidade de alimentos nessa mesma área. — Olhava a vegetação ao redor e então, concluiu.
— Na antiga Grécia chegaram à definição que a população ideal de suas cidades seria algo em torno de 20 mil habitantes. Aqui podem muito bem ter descoberto como sustentar milhares de pessoas, sem destruir. Apenas não sabemos do todo. Estamos descobrindo aos poucos.
— Já entendi Henrique, mas, em que isso poderia ajudar.
— Ora, se os antigos puderam fazer, talvez possamos retomar o feito, de alguma forma.
— Tá bom, entendi. Já chega, vamos embora. — Pouco afeito a estas observações, Agenor de fato, entendia pouco as preocupações de Henrique.
Já este, sonhava com o repovoamento da floresta e dos rios, sem a necessidade de destruir por onde se passasse. Hoje muita gente sonha com a mesma coisa e desenvolve desde habitações a novas técnicas de plantio e produção de pescado.
Essas iniciativas se avolumam e prosseguem. Aos poucos novas técnicas de sobrevivência na selva vão sendo descobertas. Talvez, já exista luz no fim do túnel.