Foto: Yogendra Singh em Pexels
Por: Antonio Mata
A respiração já era um tanto quanto ofegante. Típico de quem não está acostumado, mas que reconhece o que se precisa fazer.
Por isso, de tênis, calção e camiseta ganhou as calçadas das ruas. Às vezes solitariamente, em certos dias os parceiros se multiplicavam pelos parques e calçadões.
Caminhava ofegante, mas satisfeito pelo disciplinamento que já não dava mais para postergar. Também pudera, com aquele monte de números índices que o médico o havia mostrado, o buraco iria chegar mais cedo e de uma forma muito dolorosa. Então agora vai e faz, com espírito decido, com vontade de ver dar certo. É bem verdade que também foi empurrado pela força do medo.
A opinião recorrente é fácil e conhecida. Nada disso é novidade; corre o mundo há tempos. Qualquer dúvida, tem Internet, tem Google, Youtube; tem até médico. Cuidar da saúde, obter qualidade de vida, ser longevo, blá, blá, blá...
Pensava na mulher, a quem havia convidado a participar daquelas caminhadas matinais. Infelizmente, ela argumentou sua impossibilidade. O cansaço, a questão da insônia, as dores nas pernas. Acabou por desistir.
De todo modo, o ânimo que o tocava adiante, partia de razões muito íntimas. Construções de longo prazo que o trouxeram às concepções que o norteavam e o amparavam agora. O desperdício de tempo e de dinheiro já haviam passado.
A natureza dos dias, com suas múltiplas incertezas exigiam bases seguras para prosseguir. Tomar decisões por impulsividade, abrir o caminho na força bruta. Ou atuar no grito, na apelação junto às multidões. O cansaço pela repetição de ações forçadas, nas quais nem ele mesmo acreditava.
Frases conhecidas, ideias simples, porém objetivas passaram a ser enxergadas com mais clareza, para longe das ilusões de outros tempos. Um convite a ação; “Ajuda-te, que o céu te ajudará”. Necessidade de reflexão; “A boca fala do que está cheio o coração”. Norma de conduta e autenticidade; “O olho é a lâmpada do corpo. Se teu olho é bom, todo o seu corpo se encherá de luz”. A negação da violência; “Bem-aventurados os mansos, pois que herdarão a Terra”.
Estar na frente, estar por cima; já não importava como antes. Concebia a existência de outra maneira. De compreender a fazer, e então, fazer pelo outro. Mais que fazer, servir. Ser sadio e são para servir mais. E então servir melhor. Tudo se faz a seu tempo; tudo em sua vez. Não havia confusão nem conflito.
A luz, uma alusão pouca lembrada e entendida, agora possui cores próprias. O brilho, vulgarizado pelos significados do mundo, tornou-se o resultado de uma jornada, que quando parecia terminar; estava apenas começando. A Divina Luz se amplia, tão inatacável quanto bela.
Caminhava no calçadão naquela manhã radiante, amparado por pensamentos simples e profundos. O “enthousiasmos” já não é mais uma palavra tomada de empréstimo. Agora, é “cheio de Deus”.