Foto: Dmitri Osipenko
Por: Antonio Mata
No convés, junto à proa, vislumbrava a imensidão verde-esmeralda, aparentemente como quem enxergava algo novo, com o qual não se estava acostumado. Olhando, tudo parecia distante. Como se a embarcação fosse muito alta.
Tomado por tais impressões, podia contemplar ao redor. O sol, que não era amarelo e sim de uma luz branca, muito clara, se levantava oferecendo um colorido de encher os olhos. Os matizes de azul, principalmente em lilás, e depois róseo, para citar os mais perceptíveis, combinados com aquele amanhecer de ventos suaves, e uma coletânea de pequenas vagas espumantes no mar, completavam o cenário de sonho.
Prestando mais atenção, notou uma forma que, no meio daquele cenário onírico, parecia a única coisa realmente familiar, ainda que distante, ainda que de fantasia. Ao fixar a vista, lembrou de Júlio Verne, em “20 mil léguas submarinas”, quando descrevia os contornos de um submarino.
A história começava a tomar o rumo do brejo. Aquele negócio dentro d’água simplesmente estava atrapalhando aquela paisagem de puro encantamento. Ninguém chamou Júlio Verne, muito menos o seu submarino. Melhor que se definisse logo o que fazer com aquele penetra, antes que estragasse a paisagem.
Arranja uma forma de olhar mais de perto, é lógico. Bastou pensar, foi só atentar nisso, e a embarcação parecia ter encolhido, ou teve de descer de uma forma tal, que achava terem dado sumiço no navio. Na descida rápida, pôde ainda vislumbrar, não um, mas pelo menos uma dúzia daqueles submarinos, em tons de verde-escuro e cinza-escuro, quase preto. Isso não fazia parte daquela história de ficção e aventura. Havia submarinos demais.
Continuava se aproximando, agora mais lentamente, podendo observar os detalhes salientes e bem definidos. O costado, lembrando um crocodilo, e uma espécie de alça na parte frontal superior. O que se fazer com aquela alça, ninguém disse, mas a peça estava lá, a caminho da proa do submarino.
Não achava aquilo nem feio, nem bonito, apenas pensava que tudo era muito diferente. O que seria o leme vertical, na popa, estava bem visível. Uma pequena constatação começou a surgir em sua mente, na medida que se aproximava cada vez mais. Aquilo não tem um aspecto metálico nenhum.
Mesmo o costado de crocodilo, assim como aquela estranha alça dianteira, agora tinham um delineamento mais suave, e nada de aspecto metálico. Finalmente o que se pensava serem grandes vigias, já assumia outros contornos.
Não se tratava de vigias enormes, eram sim grandes olhos. O olho esquerdo lhe acompanhava na sua movimentação. Aliás, estava fazendo isso já algum tempo. O grupo, aquela dúzia, foi prestando atenção na sua chegada.
Acelerou a descida, o que lhe provocou um certo susto, ao prever o choque com a água, e as consequências. Só não ocorreu nenhum choque. Uma espécie de bolha invisível o envolvia, só se tornando perceptível, por conta de seu contato com a água. Metade da bolha estava dentro do mar, e a outra metade fora.
Aproximou-se, quase tocando naquele ser enorme, que de submarino não tinha nada. Poder-se-ia dizer, aparentado a um cetáceo. Porém, os olhos grandes, estavam mais para o alto da cabeça. Lembrava uma baleia, sem ser propriamente parecido. As baleias possuem nadadeiras horizontais. Já aquele gigante, era diferente. Possuía uma nadadeira vertical.
O que reforçava a possível proximidade, era a atitude calma e majestosa destes animais. Apenas olhavam sem expressar nenhum tipo de hostilidade. Ao fazer tal constatação, foi tomado por uma onda de absoluta tranquilidade. Aqueles gigantes, estavam agora inseridos naquele contexto de sonho. Faziam parte da bela paisagem marinha de águas verdes-esmeralda. Havia se inserido naquele contexto, e já apreciava o estranho passeio ao lado de tamanha mansuetude.
Estava absorvendo aquela onda de bem-estar, quando se deu conta de que havia alguém prestando atenção em tudo.
— O sonho estava gostoso, foi?
— O quê?
— Brincadeira, você aí com essa cara. Fiquei só prestando atenção. Você estava engraçado.
Luma oferecia ao companheiro, o entendimento de sua visão, na penumbra no quarto.
— Estive em um lugar, ou pelo menos parecia estar, em um lugar que nunca vi antes. Um mar verde-esmeralda, com animais enormes, que lembravam baleias, só que em tons escuros de verde. O céu era diferente e magnífico. De um colorido que eu nunca vi por aqui. Era simplesmente fantástico ficar olhando para o céu. Imagino que você iria gostar.
— Está bem, da próxima vez me leve.
— Combinado, se puder, levo.
Aconchegou-se junto da mulher, ainda envolvido pelo que havia assistido. Achou tudo muito bizarro, e logo retornou a dormir.