Foto: Wikimedia Commons
Por: Antonio Mata
Apressava as crianças para que não se atrasassem. Tempo de reinício das aulas. Bastou amanhecer e a chuva se instalou. Já no carro, pensava na chegada. Aquela fila de veículos na entrada e a chuva que não queria passar.
Até lá, o pouco trânsito não se fazia agitado, não ligando muito para a chuva. Então apareceu uma vozinha, meio rouca e tranquila, balbuciando algo que logo chegou, e se instalou na memória dos demais.
Cantarolava despreocupadamente, fosse para encher o tempo, fosse para aquietar-se com aquela melodia. Aquilo que chamam de música chiclete, pois gruda na memória. Tanto dos adultos como das crianças.
Bastou falar e já se entoava os três no carro. Poucas coisas conseguem obter uma permanência tão suave. Sem espalhafatos, sem bandeiras, transpondo as épocas e fronteiras. Sem imposições, apenas está lá, e parece que não passa, nem se acaba. Ela vai e volta, se não voltar hoje, volta amanhã. Tal é a natureza da música.
O tempo, era aquele, dos telefones com cinco ou seis dígitos, ordenados em círculo para serem discados, sobre um aparelho grandalhão e comumente preto. Um luxo para poucos. Eram caros e tinha que aguardar na fila para se ter uma linha. Gostava de ocupar as salas da classe média daqueles idos.
As pessoas ainda corriam atrás do bonde, que só encerrariam em 1963, por conta da falta de reposição e atualização dos modelos. Diferente do que aconteceu e ainda acontece em outros cantos do mundo. Não havia mais nem peças, nem interesse. Assim, foram diminuindo as linhas e o serviço foi se acabando.
Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça...
Um dia foram os autores, depois eu mesmo. Então minha filha, e hoje é meu neto. A quarta geração a se entreter com essa melodia chiclete. Garota de Ipanema, de 1962, fez 60 anos. Parabéns Heloisa, parabéns Vinícius. Parabéns Tom.