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                                                                                         Imagem: Public Domain Pictures - Lynn Grey Ling

Por: Antonio Mata

O movimento era grande, significando que teria de esperar. Às vezes o dia inteiro, sem, contudo, oferecer maior atenção ao aglomerado logo à sua frente. Permaneceu no final da fila.

Modesto, de atitudes calmas, trajava uma jaqueta e um boné em tons de azul. A roupa folgada, parecendo desproporcional ao corpo. Aguardou por mais de dez horas até ser atendido.

A despeito de seu tamanho, meio encolhido e tronco recurvado, pretendia não ser visto. Não desejava chamar a atenção em meio aos demais. Muito menos queria assustá-los com sua forma e presença. Tão diferente que era dos demais.

Chegado o momento, aproximou-se e pôde então expor o motivo de sua espera tão extensa.

— Já estive aqui anteriormente. Vim conhecer o trabalho que era realizado. O qual apreciei muito. Por isso, agora venho para pedir. Pedir ajuda para o meu povo.

Deteve-se um instante.

— Venho das águas profundas. Para além da foz do grande rio que cruza as florestas, desde o sopé das montanhas. Para além da grande ilha, e após onde o rio abre o seu leque amarelo turvo, alcançando o mar e se misturando a ele. Aí então, após cruzar o grande recife de coral, surge uma cidade, onde vivemos. É de lá que eu venho.

Nova parada e calmamente prosseguiu.

— Meu povo padece muito. Um mal que os aflige cada vez mais e os impede de cuidar de seus afazeres. Não conseguem se livrar daquela angústia que os esmorece invisivelmente.

Tinha um aspecto grandalhão. Os pés tinham sido substituídos por duas grandes nadadeiras escuras, meio esverdeadas, lembrando as patas de uma foca. A face lisa, de olhos grandes, lembrando alguém meio peixe, meio homem. Sentado e tranquilo, prosseguiu em sua exposição.

— Já na primeira visita, me disseram que aqui poderia obter ajuda para nosso povo. Conheço o seu Jesus, o qual é o Mestre de meu povo também. Em nossa cidade, padecem de depressão, uma tristeza muito profunda que os imobiliza. Acabam perdendo a vontade de cuidar de suas coisas. O olhar de minha gente está se tornando opaco, sem vida. A cidade foi se tornando imersa em muita tristeza. Como quem anuncia o seu próprio fim.

Visivelmente entristecido, concluiu.

— Têm dificuldade para pensar, não se motivam a nada. Estão parando de se alimentar. Deixando de falar, a ponto dos caminhos se tornarem silenciosos, invadidos de tanta tristeza. Não sabemos mais o que fazer.

Expostas as suas razões que motivaram a visita, o representante do povo das profundezas recebeu alguns informes, antes de ser encaminhado a um grupo de socorristas que já o aguardava e que retornariam com ele.

A transição planetária que avança, atinge a todos os seres. No reino mineral, vegetal, animal e hominal. O novo coquetel energético que alcança a Terra acaba criando perturbações no espírito, como nunca aconteceu antes.

O desajuste, o desconforto causado exigirá preparação e vontade de prosseguir, até que o processo se complete. Quando então, somente aqueles que sejam capazes de assumir o novo nível vibracional e de consciência do planeta, poderão permanecer neste orbe. Os demais serão encaminhados para níveis que lhes sejam mais compatíveis.

Jesus, no afã de esclarecer aos homens sobre algo tão complexo, porém necessário e que fatalmente chegaria, apenas chamou este processo de A separação do joio e do trigo. A humanidade de superfície, da feita que não é a única humanidade terrestre, vivencia ao seu tempo as mesmas dificuldades.

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