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terra de espíritos

histórias, crônicas e contos

Na beira da estrada

Por: Antonio Mata

Foi quando a fome apertou e na mochila, não havia nada para se comer. Se afastou da estrada, desejoso de encontrar frutos na floresta. Iniciou sua busca, já sabendo que nas proximidades poderia encontrar o que procurava.

Deve ter adentrado, não mais que uns duzentos metros. Encontrou e distraiu-se a catar um pouco e colocar na mochila. Foi quando ouviu um tropel.

Ao virar-se, avistou um porco-do-mato. Largou suas coisas e disparou a correr. Agora à cata de uma árvore onde pudesse subir e escapar do animal, já perto de alcançá-lo.

De um salto subiu na árvore e todo esbaforido ficava lá de cima olhando para o seu perseguidor. De lá do alto gritava.

— Some daí coisa ruim, sai daí!

Em que o porco, lá embaixo respondia.

— Saio se você descer.

— Some daí coisa ruim! Só desço se você sair!

— Pois, só saio se você descer.

Estabeleceu-se o impasse. Nem o homem descia da árvore, nem o porco-do-mato ia embora dali. Sem haver uma definição, nisso o tempo passou e a noite caiu.

Cansado, assustado e com fome, sem poder descer, o homem acomodou-se. Com as pernas e os braços soltos ao redor de um galho, a exemplo de um felino, finalmente adormeceu.

O porco-do-mato, ante a resistência do homem, ajeitou-se junto a árvore. Deitado, também acabou por dormir. Estranha trégua entre seres tão diferentes havia começado.

Com a alvorada os primeiros raios de sol adentraram o lugar por entre a vegetação. Escorregando lentamente, o homem acabou por cair de lá de cima. O impacto violento com o corpo do animal, dormindo logo abaixo se tornou inevitável.

Com a queda, o homem acorda. Ao se ver em cima do porco, solta um grito horroroso. Ao mesmo tempo, o porco-do-mato, tendo amortecido a queda do homem aloprado com o próprio corpo, soltou um grunhido de dor. Daqueles de se ouvir longe.

Entre grunhidos e gritos, o bicho correu o mais que pôde e adentrou a floresta. O homem, de olhos arregalados, saiu em disparada no sentido oposto.

Esquecendo da mochila com as frutas e muito desesperado, alcançou a estrada, no ponto por onde havia entrado. Tomou o rumo da cidade e correndo, sumiu dali.

 

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