Foto: Nikolas Noonan
Por: Antonio Mata
Apenas caminhava lentamente, como quem cuidava de não dar um passo em falso. Os olhos, igualmente, percorriam ao redor. Como quem quer ver de verdade, ou apenas observar o lugar, já não se dava conta, apenas andava e olhava.
Presta atenção no canto, um pequeno espaço, tantas vezes transformado em lugar de encontro, para o dominó dos fins de semana, onde uns poucos e especiais convidados se reuniam.
Deveria estar lá, mas não está mais. Enxerga o lugar, mas só existe o piso cimentado. Levanta a vista para onde deveria estar uma janela, que já não está mais. Ao lado uma porta, que não está lá. Um jardim que não está lá. A parede, o telhado, a viga, não, não está, não está lá.
A trouxa debaixo do braço reunia umas poucas coisas que conseguira reunir, simplesmente catando. Catando para quê? Levar para onde? Ainda conseguiu manter algo? E quem não conseguiu, e não correu, não se escondeu?
Afinal, era para correr, ou era para se esconder? Se era para se abrigar, onde que é o abrigo? Mas o abrigo não é a casa? Então é para ela que vão todos correr. Para se abrigar, não é assim? Aqui sempre foi assim, vai para casa.
Já que lá é onde se vive, é o lugar, o primeiro no qual se pensa. Então, aconteça o que acontecer, é para lá que vamos correr, e é lá que devemos ficar. É assim, todos vão fazer assim, porque é assim que tem que ser feito. Vai discutir?
Foi logo no início da manhã. Qualquer coisa, logo após o sol raiar. O céu ficou muito carregado e escureceu de novo. Trovejava forte e ventava mais forte ainda. Umas poucas pessoas saindo cedo de casa, quando viram aquilo, acharam por bem retornar.
Chegou até o meio da rua, a tempo de ver o cone invertido e retorcido. Era um cone cinzento, de poeira, destroços e vento. O viu crescer, e viu se aproximar. Fez a única coisa em que pensou. Reuniu-se no quarto com a mulher e os filhos. Agora era esperar, orar e deixar passar. Ninguém estava pronto para aquilo.