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histórias, crônicas e contos

O Fogo

      Fonte: Spencer por Pixabay

 Por: Antonio Mata 

O que há de tão particularmente fantástico em se querer conhecer? O ato de descobrir. O fenômeno da vida pode ser descoberto no nível da matéria, mas também no nível do espírito.
 
As interpretações se sucedem, e cada uma delas oferece mais uma aproximação para aquilo que, a princípio, era dado como sabido. Já não haveria mais o que se aprender, não ali.
 
Quando menos se espera, sobrevém a surpresa, o impensável. Ao menos naquele momento. Sob que circunstância uma casa haveria de possuir muitas moradas? Pois assim afirmava Jesus (João, 14:1 a 3), onde a grande casa celestial é o universo, e as moradas, os incontáveis mundos existentes.
Já dizia então, Não se perturbe o vosso coração. A palavra perturbar, no sentido de “irritar-se, enfurecer-se; falar em tom severo; censurar; comover-se; agitar-se; perturbar-se (de emoção). Dias, Haroldo Dutra (Trad.). O Novo Testamento, Brasília: FEB, 2013.
 
Da Grécia antiga emerge o pensamento de Empédocles de Agrigento, cerca de 400 anos antes da vinda do Messias. Este idealizou um conjunto de quatro elementos formadores de todas as coisas, a partir dos quais se originariam todo o universo. Tais elementos seriam a terra, água, ar e o fogo. O fogo e o ar representariam a leveza dos seres. Já a água e a terra o seu peso.
 
Empédocles não concebia o espírito, o que só viria posteriormente  com Aristóteles e Platão.
Contudo, é na concepção de Empédocles que se encontra a primeira referência para a história a seguir.
 
Ao longo de milhões de anos a Terra recebeu visitantes de origens as mais diversas, e com propósitos muito distintos. Houve quem enxergasse um mundo habitado por feras, e queriam espécies animais para estudos avançados.
 
Outros escaneavam a superfície do globo, onde o grande interesse estava na mineração. A busca por minérios raros.
 
Quando não capturavam os próprios humanos para fins de estudos de genética. Outros aqui chegaram em condições de emergência, um acidente, um pouso forçado. Vagaram pelo planeta, presos que ficaram.
 
Havia ainda aqueles que buscavam um lugar para ficar, e aqueles que aqui chegaram na condição de rebeldes, seres degredados. Contudo, desenvolveram-se, pois aqui seria a sua morada. O recanto que reuniria suas histórias, experiências e realizações evolutivas, até serem capazes de enxergarem o céu.
 
Diversos povos distintos cumpriram sua saga no mundo físico, a terceira dimensão da vida, suas marcas agora estão espalhadas por todo o planeta. 
São inumeráveis objetos perdidos, no que agora é um deserto; soterrado em meio às atuais florestas; no fundo de lagos e rios que o tempo levou; perdidos no leito oceânico; além de ruínas de antigas construções por todo o globo, na terra e no mar.
 
É assim, quando é antigo constituem sítios arqueológicos. O amontoado de peças, restos de satélites e foguetes que orbitam a Terra são apenas lixo, já que suas origens são conhecidas. Não importa que seja na terra, no mar ou no ar. Os restos sempre ficam pelo caminho.
 
É um planeta coalhado de coisas que ficaram para trás, como que para testemunhar aquela presença existiu. Onde a vida era física, arqueólogos se desdobravam e se confundiam para dar um sentido ao emaranhado de coisas deixadas em meio à jornada e aos propósitos de cada um. Uma descoberta aqui, um ocultamento ali. Mas, e onde o fenômeno da vida não era físico?
 
Onde não era e não é físico, se inicia o domínio do imponderável, usualmente chamado de mundo espiritual. Há de se entender que se trata de uma simplificação. Jesus, na sua condição de Mestre, oferece o guia por este caminho tortuoso.
 
Sendo assim, Há muitas moradas na casa de meu Pai. Por extensão, há muitos moradores nestas muitas moradas, de diversas formas, origens e em diversas épocas. Não há nenhuma confusão quanto a isso.
 
A enorme quantidade de relíquias e ruínas, de datações e tipos diversos assim o demonstram.
O grupo mediúnico havia se reunido como de costume, no dia e horário estabelecido. Iniciadas as atividades da noite, chega o momento do contato com aqueles comunicantes selecionados para aquele encontro.
 
O trabalho prossegue em harmonia, atendendo principalmente espíritos necessitados que são encaminhados para o tratamento. Em dado momento, aproxima-se um comunicante, identificado pela equipe de médiuns.
 
Dir-se-ia possuir a forma humana, as mesmas proporções corporais, deslocando-se como um humano. Com uma diferença inesperada de todos. O ser que se aproximava parecia mais exatamente ser feito de fogo.
 
Seu corpo era de cor avermelhada, como o sol do final da tarde. Possuía um aspecto incandescente, porém como uma tocha protegida do vento. Não havia perturbações na chama.
 
Poderia se questionar que a natureza da chama seguiria seu estado de humor. Imagine um ser destes aborrecido? Foi apenas um pensamento e tal interrogação não se ofereceu. De forma tranquila dirigiu-se ao dialogador.
 
— Olá, boa noite. Venho dos domínios logo abaixo da crosta terrestre, dos níveis mais profundos.
 
— Penso ter entendido. Então se refere a aquilo que chamamos de umbral?
 
— Não, eu não venho do umbral. Vivemos abaixo do manto, no que vocês chamam de núcleo externo ao núcleo central do planeta, portanto vivemos abaixo do manto. Nos localizamos lá há muito tempo. Nos é agradável dessa forma. Aqui encontramos a morada que nos é útil e importante em nosso processo evolutivo. Estamos aqui neste momento, para observar o andamento da vida na superfície, assim como o trabalho de vocês.
 
— Estão aqui, digo neste mundo, há muito tempo?
 
— Sim, aliás chegamos aqui há mais tempo do que vocês. Veja que o entendimento que se possui da vida na Terra, se amplia com o tempo. O Homo Sapiens, o antecessor logo imediato do homem moderno, acreditava-se que estava sobre a Terra há 40 mil anos. Só a chegada do homem na Austrália possui 40 mil anos, e já se aceita que provavelmente o Homo Sapiens esteja na Terra há mais de cem mil anos. Devo lhe dizer que já estavam aqui há bem mais tempo.
 
— Entendi. O irmão disse que vocês estão aqui para observar a vida de superfície e o nosso trabalho. Pode falar mais um pouco sobre o propósito destas observações?
 
— Posso sim. Veja que esta é a nossa morada conjunta, o nosso planeta com as suas diversas dimensões viventes. Certamente que não somos integrantes da terceira dimensão, o seu mundo físico. Porém, somos habitantes do mesmo mundo em uma dimensão e em uma condição bem distinta da sua. Sendo assim, como habitantes deste mesmo mundo, também estamos envolvidos e nos preocupamos com os processos de transição planetária que afetam a superfície e o planeta como um todo.
 
— Então vocês controlam as forças que atuam nas camadas internas do planeta?
 
— Nós ainda não. Vivemos sob temperaturas extremas de calor, entretanto estamos mais próximos daqueles que controlam as forças internas do planeta do que vocês. São muito mais avançados do que nós.
 
— Poderia explicar mais um pouco?
 
— Veja dessa forma, a humanidade de superfície, a sua humanidade, realiza o aprendizado de como cuidar do planeta, na parte que lhes compete, em um estágio ainda primário, pois a maioria de vocês ainda não entendeu que é preciso zelar pela sua própria morada. Veja que isto, é só um pequeno esclarecimento. 
 
Fez-se um curto silêncio, quando então prosseguiu:
 
— Na realidade, a vontade, o desejo de cuidar do seu próprio mundo está apenas nascendo. Neste momento vocês são considerados grandes destruidores da vida. Dito isto, de onde viemos, já entendemos que este zelo é absolutamente necessário. Se cometêssemos os mesmos desvarios que observamos na superfície, a vida de vocês se tornaria literalmente um inferno. Vocês não suportariam e acabariam assados, vitimados pelos nossos próprios erros lá embaixo. Tanto quanto a Terra já não os suporta mais nas suas concepções de vida, aqui em cima, sobre a superfície. Percebe que estamos interligados?
 
Pensativo e cabisbaixo, o dialogador é levado a compreender o óbvio.
 
— Entre a tristeza, a surpresa e a angústia, percebo sim. Não imaginava que tais ligações pudessem existir.
 
 
— Compreendo, mas não fique triste. Vocês não constituem a primeira humanidade a destruir por ignorância, por desconhecimento, muito menos serão a última. Veja que vocês estão em processo de despertamento. Afinal, já se dizia: Vós sois o sal da terra. Assim, terão de aprender, como aconteceu a todos os demais. Como ser o sal da terra sem a compreensão dos fenômenos da vida? Conhecer, compreender, trabalhar e respeitar a vida do outro.
Um breve silêncio e a sua despedida.
 
— Bem, por hora é o que podemos lhe dizer. Agradecemos pela atenção e pela nossa pequena conversa.
 
— Eu é que agradeço pela visita, pela descoberta e pela conversa tão espetacular.
 
Então, foi isso. Empédocles intuiu algo que o levou a fazer uma primeira classificação das coisas. Ao fazê-lo, elegeu o fogo como um dos elementos primordiais formadores do universo.
 
Jesus assumiu a existência de muitas e distintas moradas. O amigo visitante contou sobre a sua morada, onde vivia sua humanidade, sua gente. Aquela morada da qual aprenderam a cuidar para não perturbar os demais. O grande condomínio da Criação, os domínios da vida, está crescendo. 
                                

                                           FIM

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